:: A aparição
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Dia desses fui abordada numa rede social dessa vida. Parece que eu tenho o perfil para uma certa campanha a ser fotografada em breve. Aí pronto, fiquei um-no-jo! Oi, delírios de top model! Oi fama, fortuna, glamour e temporadas de moda em Milão! Oi, pessoa realista e pé no chão, tudo bem?

(Só pra ficar claro, eu conheço quem me abordou, ok? Não sou nem maluca nem ingênua para cair em golpes internéticos e terminar numa banheira de gelo sem um rim. Não tentem isso em casa sem ter certeza que é confiável, please...)

A produtora de casting me pediu para mandar umas fotos. Esse pedido é meio arriscado, porque nem sempre o que se vê é de fato o que se tem: na tentativa de vender o próprio peixe, a gente só escolhe o melhor do melhor do melhor. Para cada 100 fotos meia boca todo mundo tem 1 em que está especialmente bem. Assim fica fácil. Escolhi as fotos mais espetaculosas (e que, vejam bem, foram tiradas em momentos mágicos tipo gravidez ou Paris, com a pele radiante e o humor nas alturas) e mandei. Passei pra segunda etapa: a produtora me ligou e pediu pra eu ir até o estúdio tirar mais fotos. Ai que chiqueza, que sucesso, como sou bela e carismática!

Fiz-me linda ontem à tarde e fui, toda pirlimpimpim, tirar as benditas fotos. Super num clima já ganhou!, já ganhou!, já ganhou! (ai, dá até uma vergoinha confessar essas coisas... pessoa louca, tá gente, há que se dar um desconto.)

Aí cheguei vaporosa e foi aquele TAPA NA CARA, né?

Eu tenho 1 metro e 59. Eu uso calça 40. Ainda estou uns 4 quilos acima do peso (vejam o lado positivo: há 2 meses eram 10 quilos...). Eu sou bonitinha-normal, gente. Simpática, sabe? Aquela garota comum que foi da sua classe ou coisa do tipo. Aí chego lá e só vejo mulherão. Espiei no caderninho da produtora e as alturas começavam em 1,70. Cruzei no portão com uma morena tão linda que quase caí pra trás. Enfim. Um gostoso choque gelado de realidade pra refrescar o dia.

Na hora das fotos ainda fui surpreendida pelo fator nervosismo, que faz a expressão congelar, os lábios ficarem meio bobos e os olhos parecerem lunáticos, um mais arregalado que o outro. Tirar foto de gatinha é fácil quando é o marido fotografando, né? Bota fotógrafo profissional e luz na fuça que a gente fica instantaneamente com cara de pastel. Tirei as fotos me sentindo super desconfortável, percebi que o desconforto estava estampado na cara, aí fiquei autoconsciente e crítica, e mais nervosa, e assim fomos ladeira abaixo. Como, aliás, era de se esperar para uma criatura que nunca tirou fotos do tipo na vida.

No fim da sessão a fotógrafa me chamou pra ver as fotos.

Ai, gente. AI, GENTE! Que situação. Tenho ataquinhos de riso nervoso só de lembrar.

Estava tudo lá: um ar de desequilibrada, os olhos assimétricos, a boca dura de botox e a cara de pastel. Pra tudo isso eu estava preparada. Mas tinha algo mais. Algo que muito me surpreendeu. BOCHECHAS. Pregadas na minha própria cara. Bochechas que não estavam ali antes, juro juro!

Sabe essas fotos aterrorizantes que contém visitantes do além? Tipos, aqui sou eu, aqui meu irmão, aqui meu primo... e aqui, oh!, meu tataravô que morreu em 1882! Foi assim. God, eu tenho bochechas fantasma! Bochechas que não aparecem na vida real - fui checar no espelho - mas que na luz chapada da foto se revelam como mágica! Horror, horror!

Fiquei em choque contemplando minhas novas bochechas e tentando me justificar ("é o pós parto, moça!" "ah, você é mãe, qual a idade do seu filho?" "oi? - cof cof - 7 meses..." Hahahahahaha!). A produtora, que era fofa, ainda disse que eu podia voltar pra fazer novas fotos se conseguisse emagrecer mais até o mês que vem. Quédizê: lá se foi o trabalho, o cachê (que era bem bom) e a auto-estima delirante.

Agora, além de conviver com a fato de ter 1,59m e usar calça 40, além de estar de regime, além de ser apenas normal, eu ainda tenho que lidar com bochechas fantasma que se materializam em fotografias. Não mereço isso, mas quem falou que a vida é justa?

Então, já que eu não vou ganhar fortunas com a minha beleza arrasadora (meu marido acha, tá?), bora voltar pra vida real e ficar feliz, muito feliz, no emprego novo? Principalmente porque o freela é curto. E crachá temporário, graças a deus, não tem foto.




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