Eu estou numa fase dental. Faz 2 semanas que visito dentistas como quem vai ao banheiro, de modo que volta e meia me pego pensando em dentes. Hoje, pra variar um pouco, vou falar dos dentes da pequena (que, ao contrário dos meus, só me dão alegria!).
Ainda não tenho a foto do canino que prometi, mas tenho um texto. Que foi escrito em abril, quando apareceu o primeiro dentico dela. Segue aí embaixo.
Entre uma mordida banguela aqui e outra ali, eu me dei conta: tá nascendo o primeiro dente da Alice. Ainda nem chega a ser um dente, é mais um serrotinho brotando da gengiva que a gente percebe quando passa o dedo (ela fica bravíssima). Mas tá lá.
Então minha filha já tem dente, que mocinha! Minha reação? Fiquei com vontade de chorar. Sério. Estou vivenciando o luto da gengiva – mais um, entre tantos outros lutos que a gente vive quando tem filho. Porque você ainda tá se acostumando com aquela pessoinha daquele jeito e quando vai ver, já foi. Ela já mudou e nada será como antes. Minha sensação é: a Alice nasceu anteontem, sentou ontem e hoje tem um dente. Se continuar nesse ritmo, ela vai aprender a falar amanhã, a escrever depois de amanhã e na semana que vem vai estar com 15 anos, cheia de piercings e gritando que me odeia. Daqui a um mês eu viro avó! Deu pra sentir o drama?
É tudo muito rápido, cara! E eu sinto que tô perdendo o bonde. Mesmo estando aqui do lado dela todos os dias, vejam só. Mandei a licença-maternidade pras cucuias e me dei esses primeiros meses da vida da minha filha de presente - um luxo que valeu muito a pena, pra mim e pra ela. Imagino como deve ser difícil sair de casa de manhã e perder cada sorriso, cada truquezinho novo, cada coisa que eles aprendem todo dia – e são tantas que até estando do lado é difícil acompanhar. Quando bate a crise de estar “improdutiva” por tanto tempo, é isso que me anima. E, verdade seja dita: improdutiva o cacete, né? Tô no trampo mais cansativo, mais exigente e mais relevante da minha vida. E, de quebra, o que me dá mais prazer, apesar dos pesares.
Mas eu falava do dente, do luto e das gengivas. Acontece que eu me apeguei às gengivas. As gengivas são uma feliz surpresa que os bebês trazem consigo, apesar de a primeira vista não valerem grande coisa. Antes da Alice nascer eu tinha mil expectativas, mas nunca, nunquinha, dei nada pelas gengivas dela. No entanto, aí está: elas estão com os dias contados e eu estou sofrendo horrores. Porque elas são lindas! São rosinhas! São rendadas! Os dentes não estão lá mas o espaço está reservado pra eles, delimitado por essa espécie de renda bonitinha que divide a gengiva em lotes. Uma graça. Bebês banguelas são simpáticos e fofinhos com aquela boquinha murcha, e vou sentir falta da Alice desdentada – apesar de saber que bebês com dentes são incríveis também, principalmente quando são só os dois dentinhos de baixo e o bebê fica parecendo um buldogue pelado, com aqueles dentes proeminentes e bochechonas balançando.
Enfim, ser mãe é exercitar o desapego, certo? Então vou dar adeus às gengivas muito dignamente e comemorar o dente segundo a tradição árabe: com um “Trigão”, que é uma sobremesa feita de trigo, nozes, amêndoas e outras coisas duras que representam tudo o que um ser possuidor de dentes pode comer. E todos comeremos – menos o bisavô da Alice, que já há algum tempo deixou de possuir dentes, e a própria Alice, que começa a possuir dentes mas não sabe usá-los e cuja mãe não é louca o suficiente pra mergulhá-la em açúcar e afins tão cedo.
Então é isso. Que venham os próximos dentes - mas venham depressa, senão a Alice vai ficar a cara do Chico Bento, com aquele dentão solitário. E Chico Bento, convenhamos, não dá.