Eu sento num banco, olho embasbacada para as crianças no parquinho e a questão que fica é: como as elas sobrevivem à infância, COMO???
- - Fazia a clássica “bola invertida de bexiga”, que consiste em SUGAR a borracha de uma bexiga estourada para fazer uma bola pra dentro, sabe como? Depois a gente enrolava a parte que estava pra fora da boca e saía por aí com uma mini-bexiguinha, sem ter nem idéia do risco de um engasgo fatal que acabou de correr.
- - Resolvi certa vez que era tão, mas tão forte que conseguiria AMASSAR UM COPO DE VIDRO. E peguei um copo, desses de requeijão, e apertei apertei apertei com to-das-as-mi-nhas-for-ças, até a mão tremer. Por sorte, o que me faltava de inteligência faltava também de força, de modo que não foi dessa vez que eu cortei minha mão fora por conta de uma brincadeira imbecil. Mas né? Um bocado preocupante que crianças tenham esse tipo de idéia...
- - Rolar cachoeira abaixo é a história da minha vida. Mesmo depois de adulta, diga-se. É botar o pezinho e zuuum!, lá vou eu, ora levada pela correnteza, ora descendo pelas pedras feito tobogã pra só parar a poucos metros da grande queda fatal (meu anjo da guarda é foda, sério! Amo-o muito). Teve até um episódio humilhante em que eu, toda pimpona, tentava seduzir um mocinho numa cachoeira em Maresias. Comecei a cena toda diva sensual e terminei grudada numa pedra feito lagartixa, o biquíni enfiado na bunda e as celulites todas pra fora, esperando o resgate - e ainda rindo ra-ra-rá pra mostrar todo o meu espírito de aventura. Aí o caso com esse mocinho só durou poucos meses e não consigo evitar de pensar que o episódio da cachoeira tem um pouco a ver com isso. Porque se nem eu me respeito depois daquilo, imagina ele, que viu de camarote e ainda foi salvar a barangona encalhada? Muito embaraçoso. Um dos meus pontos baixos dessa vida, mas que pelo menos me rendeu uma boa história e divertiu muita gente nas rodinhas sociais por aí, sendo a minha historinha tragicômica favorita de um monte de amigas queridas (alô Jojo e Nivão, que saudade de vocês!). (Ah, e esqueci de contar que no dia seguinte, pra coroar toda uma situação de charme e sedução, eu tinha 11 bichos geográficos nos pés por andar de chinela na trilha lamacenta e pisar nas cacas que lá estavam. Pensando bem, é de se admirar que o mocinho tenha sequer me encarado depois dessa viagem, que dirá por uns meses. Um cara generoso, sem dúvida...). Enfim, o fato é que o Universo não quer que eu freqüente cachoeiras, ponto. Melhor respeitar.
- -E os engasgos com bala soft? Chega até a me bater um saudosismo, lembro da sensação como se tivesse uma a-go-ra atravessada na minha goela. A bala escorregava sem querer e travava na garganta, TUM! Aí dava na gente um nervoso de um segundo e meio, rolava uma tossida engasgada e a bala deslizava de volta pra boca, onde continuava sendo chupada como se nada houvera. Acho que não existe mais bala soft, ou ela vem com um furo no meio, o que tira muito a aventura da coisa. Mas quem precisa de aventura quando se tem filho, não é mesmo? Anyway, as moedas continuam aí pra preocupar a gente...
Olha, eu poderia continuar infinitamente, mas não o farei. Só de escrever isso aqui já me dá uma vontade louca de correr na creche e espiar se minha filha está bem, se ela não engoliu nada ou arrancou o olho de um coleguinha. Ganhei uns cabelos brancos só de lembrar desses episódios que, repito, foram vividos por uma criança com-por-ta-da. Dá pra ser tão absurdamente pior que eu prefiro nem pensar (tá, agora sem querer lembrei da historia do Carlos, que aos 10 anos, andando de bicicleta em Santo Amaro, veio no pau e atravessou um cruzamento movimentado sem olhar, simples assim. Arrepios de horror).
Enfim, por essas e por outras que eu, uma mãe que não acredita em Deus, comecei a ter algum tipo de fé. Porque sem ajuda divina, a raça humana - com esse talento infantil de se colocar em situações de risco - simplesmente não poderia ter se multiplicado tanto. Se chegamos aos bilhões, é porque tem muito anjo por aí segurando a onda da gurizada. Certeza.
Então, em um lindo dia de sol, daqui da varanda do meu café favorito, onde almoço e escrevo e espero a hora de pegar a pequena na escola, ergo a taça (vinho francês, viu?) e proponho um brinde a eles, os anjos, que olham os nosso filhotes nos poucos momentos em que a gente não tá olhando. Tim-tim!