:: Volta ao trabalho
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Outro dia a Ju me perguntou como foi voltar a trabalhar. Pois bem: pra mim, voltar a trabalhar só não foi mais difícil do que voltar a não-trabalhar.

Minha “licença” durou bastante. Eu decidi ficar em casa e cuidar da Alice por pelo menos um ano. Foi ótimo, mas já deu. Eu fiquei tão intensamente imersa nisso que acabei naquela crise: ó céus, cá estou enfurnada em casa, sem ver gente, minha vida profissional inexiste, tô ficando burra, largada e sem assunto.


Nem era pra tanto, claro. Eu não fiquei burra nem desinteressante, muito pelo contrário. Sou completamente a favor de quem opta por parar de trabalhar por um ano, ou 2, ou 10, ou at all, pra cuidar de filho. Assim como sou a favor de quem segue tocando a vida profissional a mil. Essa escolha é absolutamente pessoal, e acho um horror qualquer patrulhamento nesse sentido. Tanto aquele feminismo burro que denigre a mãe em tempo integral quanto quem tenta fazer a mulher que seguiu firme na carreira se sentir culpada. Enfim, cada um cada um, certo? A minha opção, pessoal e intransferível, foi ficar em casa com Alice até cansar. Pois bem, eu cansei. Hora de sacudir a poeira, tirar o moletom, botar uma roupa decente e ir à luta.


Eis que Lulu me indica pro trampo dos sonhos: 5 horas por dia durante um mês no Guia da Folha, na parte de restaurantes. Basicamente, sair por aí comendo sem pagar (há!). Um luxo! Mas significava largar Alice em casa sem mamãe ao lado. Oh, dúvida! Nessa hora toda a convicção caiu por terra e só o que eu queria era botar de volta o moletom e sair rolando no tapete com a minha filha. Ela só tinha 8 meses, como eu teria coragem de abandoná-la em casa desse jeito? Enfim, fiz a mãe culpada, mas topei o trabalho.


Tivemos que chamar uma babá, o que pra mim foi a morte. Eu sempre fui contra as babás, coitadas... nada pessoal, mas sou daquela escola do toma-que-o-filho-é-teu, sabe? Sempre achei o fim aquelas mães que ficam se bronzeando na piscina do clube enquanto outra pessoa faz o que ela deveria estar fazendo, que é criar o próprio filho. Claro que isso é um caso extremo do mau uso das babás, mas acho que babá é realmente para caso de necessidade, não de dondoquice da mãe. Enfim, agora era um caso de necessidade, então engoli meu orgulho e contratei uma – de novo, com aquela vontade de jogar tudo pro alto, mandar a moça pra casa e cuidar eu mesma da minha filha, que é MIIINHA filha, ora bolas!, mas me estapeei na frente do espelho (mentira), recuperei o autocontrole e fui me arrumar bonitinha pro primeiro dia.


Na hora de ir, nó na garganta e vontade de chorar. Foi muito estranho sair de casa e deixar a Alice ali, sorrindo e dando tchauzinho - porque a coitadinha dá tchauzinho até para a geladeira, ainda não sacou o sentido da coisa. Mas eu sabia que estava indo pra só voltar hoooras depois, pra mim aquela despedida era tristíssima na sua ingenuidade.


Bom, lá fui eu toda importante. Aí a gente pensa que desligou o modo mãe e ligou o mulher de negócios e executiva de sucesso, mas em pouco mais de uma hora a sala toda já tinha ouvido falar da Alice, visto as fotos do Orkut e concordado que ela era o bebê mais lindo do século (atenção pessoas: todo bebê é o mais lindo do século quando se está conversando com a mãe dele, ok?). Não adianta. Você sai de casa mas a casa não sai de você. Então, com um telefonema por hora pra saber se Alice estava viva, o dia passou sem grandes sobressaltos. Glória aleluia é voltar e ver que sua filha ainda lembra quem você é. Ela ainda pula nos seus braços com um sorrisão arreganhado. Ela não ama mais a babá recém-contratada do que você, ufa! E assim a gente sobrevive ao dia 1. E 2, e 3, e 30. 


Enfim, o fim. Era agradecer a babá pelo ótimo trabalho, pagar, tchau-e-benção pra moça, e enfim sós, eu e a gorda. De novo.


Pois não é que aí a coisa complicou? Porque a Alice ficou mal acostumada: pela primeira vez teve alguém 100% em função dela, sem descanso. Claro, é o que as babás fazem, certo? Mas o esquema em casa sempre foi diferente, ela tinha uma mínima autonomia, brincava sozinha desde que alguém estivesse por perto. Com a babá, era colo e paparicos o dia inteirinho, imaginem. Foi mais mimada nesse mês do que na sua vidinha toda. Virou um monstrinho, óbvio. Impossível trabalhar com ela por perto, olha só:

 



Adorável, né? Mas cansa muito mais que redação de jornal, produção de TV, set de gravação, balcão de café ou qualquer outro emprego que eu já tive na vida. Juro! Não vejo a hora de arrumar outro trampo que me tire de casa algumas horinhas por dia - pra poder descansar um pouco, haha!


Ah é, as conclusões: voltar a trabalhar é legal. Babás (as boas) são muito legais. Mas tirar a conta bancária do vermelho, isso não tem preço!





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