Muitas mulheres passam por momentos conturbados em suas vidas quando deparam com a impossibilidade de realizar seu sonho tão esperado, o de ser mãe. Algumas partirão para o ataque e se submeterão a inseminação artificial, a tratamentos hormonais e sei lá mais o quê, que a tecnologia médica, dispõe nos dias atuais. Outras mulheres optarão pela adoção. Outras sentiram a maternidade como algo estranho, independente de terem tido um filho por vias naturais ou não.
É de se esperar que conflitos apareçam frente a qualquer uma das opções. Mas o desejo de ser mãe se torna imperativo e as barreiras iniciais podem ser vencidas.
Após uma adoção, uma gravidez induzida ou natural não é infrequente a recém-mãe ter algum grau de dificuldade em se vincular ao seu bebê. Ela desempenha suas tarefas maternas com todo seu afinco: alimenta o seu filhinho, troca-lhe as fraldas, coloca-o para dormir e etc. Apesar de todos os cuidados oferecidos, esta “novata” ainda não sentiu o despertar da paixão em seu coração – ou seja, há a dificuldade de vinculação mãe-bebê.
O que fazer quando isso acontece?
Fingir que não está acontecendo nada, delegar os cuidados da criança a uma pessoa teoricamente mais competente ou procurar ajuda? Penso que a procura por ajuda seja a maneira mais correta de resolver o impasse e a forma mais sincera de reconhecer que alguém pode se dispor a mostrar um novo caminho rumo à interação e melhora da relação afetiva.
Os sintomas de desajuste vincular podem englobar: os distúrbios de sono, alimentação e de afetos na criança e sentimentos de menos valia e baixa autoestima na mãe. Não é infreqüente após a vinda do bebê ao lar, a mãe sentir-se insegura, ter pensamentos e sentimentos ambivalentes pelo bebê e reviver sua própria história (de bebê e de criança) neste período.
A fase de adaptação que poderia transcorrer sem muitos problemas, se transforma em uma enorme nuvem negra com muita chuva, relâmpagos e raios. Dependendo da resposta emocional da mãe, ela pode acabar sofrendo em sua própria solidão os sentimentos de desafeto e desamparo, acompanhado de forte sentimento de incapacidade de cuidar e acolher seu filhinho.
Muitos desses afetos estão relacionados com o desejo de um filho idealizado que ao chegar em casa não corresponde ao ideal dos sonhos maternos e ai a dura realidade se interpõe as fantasias iniciais de ter um filho. Filho este real e para sempre! Dependendo da rede de apoio dessa mulher, ela pode se sair muito bem e superar a fase conturbada. Poderá contar com o esposo, parentes e amigos próximos que lhe darão continência e afeto para seguir em frente na jornada de ser mãe. Entretanto, essa mesma mulher pode evoluir para uma história clínica mais severa e um quadro de depressão pós-parto (DPP) pode se instalar.
A DPP não é tão rara e pode incidir em 10 a 15% das puérperas. Exibem sintomas acentuados de tristeza, insônia, alteração do apetite, rejeição ao bebê e perda da vontade de fazer as coisas mais simples. A mulher, quando tem um bebê, se fragiliza de uma maneira natural e esperada, e é esta fragilização, normal e esperada que a aproxime de seu bebê. Entretanto, em algumas mulheres essa regressão saudável não acontece e a intercomunicação mãe-bebê se torna deficitária e prejudicada.
Não nego que a vinda de uma nova pessoinha ao lar requer uma adaptação e maior flexibilidade do sistema familiar e da própria conjugalidade. A mulher acaba dormindo menos, os afazeres da casa e o conflito com o lado mulher ressurgem como fantasmas que assombram e parece que não querem ir embora. A vantagem de tudo isso, é que é uma fase passageira e logo as coisas entram no ritmo esperado. Por outro lado, quando isso não caminha de maneira suave ou quando a crise no novo ciclo de vida se acentua, é bom saber que existe tratamento, que pode nos ajudar e partilhar um caminho mais suave dentro da nova realidade estabelecida – a chegada do bebê ao lar.
Dra. Regiane Glashan, dentre outras qualificações, é terapeuta de bebê e criança e escreve o blog Terapeuta de Bebês.www.terapeutadebebes.com.br
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