Logo que conheci a Marcela, naquele papo-vai-papo-vem de quem quer se conhecer, ela disse: a fulana, que faz ménage lá em casa, tava na festa da Pepe, lembra?. Aí eu tentei fazer uma cara neutra mas fiquei pensando com meus botões que saber tanto assim da intimidade dela talvez fosse muita informação pra um primeiro papo, sabe? Depois de um vinhozinho e uma relação mais sólida eu super topo esse tipo de conversa, mas assim, nos primeiros minutos de amizade, empurrando carrinho de bebê, sei não. Então, mesmo tentando agir com naturalidade frente a notícia de que a “moça do ménage” estava na festinha de um ano da filha deles eu devo ter arregalado um baita de um olho, porque Marcela riu e me explicou que ménage aqui é arrumação, faxina, essas coisa. Ah tá.
E foi assim que eu e Carlos descobrimos que também estamos metidos nesse negócio de ménage. Porque eu não sei passar roupa – prontofalei – e uma ajudinha aqui se faz necessária devido aos meus porcos parcos talentos de dona-de-casa. Assim entra na história a Mariza, carioca radicada em Paris há quase 40 anos. Uma senhora très simpática que quebra todos os galhos pra mamãe-sonsa aqui, de ajuda na limpeza a telefonema pro pediatra. Alice adora Mariza e vive atrás dela pela casa, morrendo de rir sempre que Mariza a chama de coquine ou diz “ô-lalá” (os franceses, ao contrário do que se pensa, dizem ô-lalá, sempre num tom bem grave. Uh-lalá é uma invenção literária, creio eu.).
Daí que Mariza volta e meia fala do Chico. Ela faz ménage pro tal Chico há um bocado de tempo, desde o Brasil, se entendi direito. E me explica que não pode ficar muito porque o apartamento dele alagou e ela vai lá dar um jeito. Ou que não poderá vir no dia tal porque é o dia em que ele chega à Paris. Teve o dia em que o telefone dela tocou e ela, “alô, Chico?, passo aí hoje, beijo-tchau”. Noto um apego em sua voz quando ela fala do Chico, mas assim, com todo respeito.
Chico, Paris, carioca, apego respeitoso...
Em duas palavras? Chico. Buarque.
Oh-my-god.
Agora me diz se não é a glória: Chico Buarque conhece Mariza que me conhece. 1 grau de separação, o mais perto que eu já cheguei dele, meu ídolo absoluto desde sempre. Pois mesmo antes de saber quem era Chico Buarque eu já tinha decorado o disco d’Os Saltimbancos in-tei-ri-nho e cantava que todo mundo tem pereba, só a bailarina que não tem (e mais: eu achava que Ciranda da Bailarina tinha sido feita pra mim, como toda menininha que já vestiu um tutu cor-de-rosa achou um dia...).
Pois o Chico tem apartamento aqui pertinho de casa. E está em Paris a-go-ra. Vez em quando eu vou lá dar umas voltas no bairro dele achando que vou cruzar com o moço. E sempre fiquei pensando se eu teria coragem de dizer alguma coisa, caso cruzasse. Porque eu me conheço: se encontrar com ele na rua, vou ficar roxa e passar correndinho, com vergonha, sem coragem de gritar ou jogar a calcinha puxar um papo inteligente, como eu sempre sonhei. Vai ser o anticlímax absoluto e eu vou me odiar pra sempre, de modo que no fundo era bom que a gente nunca se cruzasse mesmo. Mas agora não! Agora temos toda uma história em comum, eu e ele. Temos Mariza, temos o ménage que nos une! Se isso não é intimidade eu não sei o que é, juro.
Estou pensando em pedir pra Mariza me levar como assistente ao ménage do Chico, naquele esquema eu-lavo-você-enxágua. E depois eu contaria toda orgulhosa pra Marcela que fiz um ménage na casa do Chico Buarque, e aposto que ela também ia arregalar um baita de um olho!
(Ah, blog de mãe, né? Então fica a dica dos Saltimbancos, Ciranda da Bailarina, O Grande Circo Místico, etc etc - pra introduzir os pequenos à boa música desde cedo.)