Tatibitati e fala afetiva
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Tatibitati e fala afetiva


Estou MUUUUITO feliz. Feliz com os seguidores do blogue já são 12 (nooosa, juro que não esperava) e super feliz com a notícia de que fui selecionada para o programa de nivelamento no mestrado em Psicologia Cognitiva da UFPE. ÊÊÊÊ!!!! Estou ansiosíssima pelas aulas, pelo conhecimento e por repassar isso na prática. Prometo deixá-los informados de tudo que diga respeito a estimulação infantil que eu aprender por lá.

Para comemorar, um post teórico, sobre um assunto controverso mas muito presente na vida dos papais e mamães.

Tenho visto muitas recomendações a respeito da forma como a mãe deve falar com o seu bebê, visando ao desenvolvimento da linguagem deste. E a maioria delas condenam o chamado "Tatibitati", ou "mamanhês", ou "nenenês", que é aquele jeitinho de infantilizar a fala, mudando o registro de voz para um timbre mais agudo e falando as palavras de maneira propositalmente erradas. Trocando em miúdos, é aquele tal de "Qui coixinha maixxx lindja de mamã, né, meu bilu-bilu, totoso e xerosim de papá?"

Tais conselhos alertam para o fato de que a criança aprende o falar por imitação, e ao ouvir as palavras faladas de maneira errada por seus pais e/ou cuidadores irá fatalmente aprender a repetí-las de maneira errada, às vezes por muito tempo, mantendo uma infantilização desnecessária ao invés de desenvolver um bom vocabulário e uma capacidade de expressão saudável.

Ok. Concordo. Até porque, como mãe, sei que é mesmo tentador vê-los falando o tatibitati de forma tão fofa e não imitá-los, só pra curtir a fofurrice por mais tempo. Aqui em casa mesmo, veja só, eu e meu marido costumamos nos pegar fazendo isso. Meu filho quando tinha dois anos aprendeu a pedir leite em pó na hora em que eu estava preparando seu leite, "Mãe, dá à boca!". E eu achei tão lindo que até hoje de vez em quando pergunto: "Vinícius, que à boca? Ops!... Quer que eu dê leite na sua boca?". Meu marido pergunta: "Vinícus, cadê a "bóa"?? ?Ops!... A bola?". Tem outra clássica. Quando ele queria dizer que um objeto não era da pessoa, aos dois aninhos ele dizia: "Você não é seu!". E quando a gente vê está querendo falar do mesmo jeito: "Vinícius, larga o bombom, você não é seu!". E por aí vai. É fofo. Até mesmo quando eles dizem todos felizes: "Mamãe, eu já comei tudo!".

Combinemos então: para promover o bom desenvolvimento da fala em nossos bebês, falemos as palavras como elas devem ser faladas. E quando eles falarem errado, não os corrijamos diretamente, mas repitamos as palavras da maneira correta:

- Mamãe, dá à boca?
- Claro, amor, eu vou dar o leite na sua boca.

Mas não gostaria de parar esta reflexão por aqui. Há algo mais na fala Tatibitati que precisa ser levado em consideração: a entonação vocal especialmente desenvolvida para o bebê. Perceba, é um instinto. E eu sempre desconfio de conselhos que mandem que ignoremos nossos instintos maternos: deixar chorar, não pegar no colo, não ninar para dormir, não falar o mamamnhês agudo e cheio de entonações esdrúxulas que absolutamente todo mudno tende a falar quando se dirige a um bebê.

Quem já teve filhos percebeu: ao começarem o processo de usar a fala para comunicar-se, por volta dos seis meses, os bebês principiam a expressar-se pela entonação. Eles imitam a maneira dos adultos falarem - e dos irmãos gritarem - usando e abusando de inflexões próprias da fala para demonstrar descontetamento, alegria, ou simplesmente para parecer estar dizendo algo. Às vezes, apenas balbuciando, eles conseguem expressar um diálogo, briga, música, os meus aqui com nove meses já conseguem fingir que estão lendo um livro enquanto apontam as figuras e balbuciam imitando minha forma de contar as histórias. Eles querem fazer parte do diálogo. Logo, é certo que o primeiro ponto em que o bebê se fixa na fala materna não é na norma culta gramatical, mas na entonação que ela dirige especialmente a ele. Com ninguém mais ela fala daquele jeito, só com ele. E ele SABE que quando ela fala com aquela voz está se dirigindo a ele. Que alegria! Ele se sente um sujeito! Ele se sente amado!

"Com cerca de 12 semanas o feto já reage a sons - em especial a voz materna, ponte de partida para a aquisição da fala na criança. Posteriormente essa mesma voz lhe dará amparo subjetivo, embalará seu sono, lhe cantará cantigas, apresentará os objetos do mundo, nomeando-os e , fato fundamental, introduzirá a figura paterna e com ela a diferença, a lei e a função simbólica - imprenscindíveis para a autonomia do aprendizado. Essa voz será portanto, plena de significados, ao mesmo tempo criadora e propagadora de subjetividade e da cognição."
(Graziela Costa Pinto)

"Na linguagem com a qual a mãe conversa como bebê, o chamado "mamanhês", já é possível perceber que o outro materno se põe ali de forma bem diferenciada, com uma entonação especial para chamar a atenção a criança, que, em geral, responde com júbilo, balbucio, sorrisos e movimento. Alfredo Jerusalinsky em 'Prosódia e enunciação na clínica com bebês', mostra que boa parte das mães após emitir suas perguntinhas entonadas, deixa um tempo estratégico para que o bebê entre no canal e dê sinal de que está na lingaguem - o bebê responde no seu turno. Do mesmo modo, queremos enfatizar que quando é hora de dormir, de comer ou mesmo de brincar, em geral, o bebê não fica sem uma cantiga suave, que embala ou anima. A mesma voz que o solicita por meio do mamanhês muda o registro e atualiza um outro tipo de texto. A mãe retorna de sua memória uma cantiga, dando vazão aos ecos arcaicos de seu próprio tempo de breço - um saber esquecido aqui é retomado." (Claudemir Belintane)

Extraídos de "A Mente do Bebê - Aquisição da Linguagem, raciocínio e conhecimento".

Portanto, falemos de maneira correta sim, mas não deixemos de usar a entonação aguda, carinhosa, cheia de inflexões deslizantes, exageros fonéticos, onomatopéias lindamente ridículas e carinhos sonoros para nos dirigirmos as nossos bebeês. As invés de tatibitati gosto de chamar essa voz materna de "fala afetiva", e ela vai desenvolver um vínculo fundamental, que está na base de todo o desenvolvimento global da criança, e que nenhum programa, método ou conselheiro bem intencionado pode resgatar: só você, mãe, pai, pode dar.


Exemplo de tatibitati AFETIVO postado por uma mãe no Youtube


Exemplo de um bebê com quem a mãe fala muito.



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