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Filhos

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Existe nesse blog uma tag chamada "agora eu amo mais". Tá ali escondidinha no meio da nuvem de tags, viram?


Pois essa tag andava me preocupando. Aconteceu que eu amei a Alice, depois amei mais quando ela tinha uns 6 meses, depois amei mais quando ela tinha um ano e meio, depois amei mais quando ela fez 2... e aí a tag empacou. Porque vou ser sincera com vocês: eu não amei mais quando ela fez 3 anos. É que os terrible twos da Alice vieram aos 3, de modo que se eu dissesse que estava amando mais e mais seria mentira. Amava igual, e contando muito com a generosidade cega das mãe, porque não é que a mocinha merecesse, viu? Estava chata, a bichinha.


Não que eu não tenha amado minha filha loucamente de lá pra cá, claro. Amei apesar de, porque vejam: mães são seres superiores programados para isso. Mas mesmo amando eu consegui ter a noção de que aquela fase adorável de bebê tinha acabado. E a tal tag se refere a isso: fases. Ao poder que crianças têm de ficarem mais e mais encantadoras com o passar do tempo. Eis que dos 2 aos 4 anos a criança definitivamente não ficou mais encantadora. Achei que o ciclo do encantamento estivesse encerrado e que o caminho natural fosse que os filhos ficassem cada vez mais chatos até completarem 20 e poucos anos, saírem de casa e a gente dar graças a deus.


Mas gente, I WAS WRONG! E agora eu venho anunciar com a maior alegria do mundo que sim, agora eu amo mais!


4 anos e meio, guardem essa idade mágica! Aqui em casa, os 4 e meio marcaram o término da passagem de criancinha-inha para criança. 4 anos e meio foi o tempo que a minha menininha levou para virar uma pequena grande pessoa.


O olhar mudou, o vocabulário mudou, o jogo corporal mudou. Sobretudo: o tom da fala mudou. Virou tonzinho, sabe? Que coisa incrível que é o tom na definição de maturidade de uma criatura, não?


O tom foi de SOU CRIANCINHA (com a língua presa) para EU CRESCI E AGORA SOU MULHER. Não que ela seja mulher de fato, mas o tonzinho é exatamente esse: SOY MUJER. Com direito a entonação de adolescente, gírias, erres e esses bem pronunciados e muito "tipo assim" e "manhêêê, mêêêu!" - em paulistanês da Mooca, ainda por cima. 


Além do tonzinho, Alice ganhou um arzinho. Aquele de superioridade, meio blasé, sabe? Gosta de assumir um ar desgostoso e revirar os olhos pra mim, num tédio absoluto. Ou então me olha cheia de arzinho e declara: "Ah é? Eu nem queria mesmo, lalalá". O tonzinho arrogante acompanha, claro. O que seria do arzinho sem o tonzinho?


Aos 4 e meio, a minha menina ganhou traquejo social. Sabe ser visita e se comportar como tal (e há de saber evitar o tonzinho em casa alheia, oremos). Ganhou o botãozinho da autocensura. E junto com ele, um botãozinho que me preocupa, o de dissimular sentimentos, esconder lágrimas e guardar coisas ruins para si. Ela vem contando algo e de repente pára: não quero falar. E não fala mesmo, por mais que eu diga que estamos aqui para tudo, que a gente sempre vai ajudar, que falar das coisas ruins é bom e alivia. Pois ela não fala. Um ponto para a gente observar com atenção a partir de agora. Questão de mocinha grande, né?


Alice gosta de falar difícil, sempre gostou. Aos três empregava palavras do jeito (e com o sentido) que lhe desse na veneta - Você pensa que eu sou um desastre, papai?, ou Aprendi sozinha, sou indignada! (querendo dizer autodidata), ou Estou extrelamente apertada para fazer xixi! Agora a danadinha acerta tudo: concordância, conjugação verbal e o sentido das palavras que usa. Creio que o sabonete ficou no banheiro do Lu, ela me disse ontem. Aos 4 e meio, ela crê. Aos 3, no máximo ela achava...


Alice gosta de jogos. Jogos de tabuleiro, jogos de cartas. Anda especialmente encantada pelas regras, que segue de modo xiita e ai de quem não acompanhar. Quando ganha, fica toda orgulhosa. Quando perde, declara evasiva: "esse não deu certo..." e sai procurando outro parceiro, de preferência aquele com o curioso hábito de perder sempre (a.k.a: vovó)








Aos 4 e meio, Alice decidiu que prender o cabelo é uma coisa legal - glória aleluia. Então faz um rabo de cavalo, puxa as sobras da franja atrás da orelha e o olhar é tão diferente que me arrepia. Quase da pra ver a mulher que ela vai ser ali, escondida atrás daqueles olhões que vão deixando de ser infantis.

E a gente acaba esquecendo que ela só tem 4 anos e meio e conta com uma maturidade que não está lá,  de modo que um belo dia você se pega explicando pra ela o apelo perverso da publicidade infantil e as razões pelas quais você não vai de jeito nenhum comprar um ovo de Páscoa por causa do brinquedo mequetrefe que vem dentro. Ao que ela olha fundo nos seus olhos, cheia de arzinho, e diz dando de ombros: Não precisa dar, eu vou pedir pro coelhinho mesmo.



E vai assistir TV de ponta-cabeça no sofá, pra te lembrar, aqui e ali, que só tem 4 anos e meio.









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