Paris é o paraíso encantado das crianças. Pra quem vem de São Paulo é um choque.
Quem já tentou sabe: dar uma volta de carrinho em SP é mais difícil que correr o Rally dos Sertões. Buraqueira danada, raízes que brotam do chão, calçadas sem rebaixamento, motoristas mal educados, e por aí vai. Passear, pra Alice, era entrar no carro e ir pra casa da vó, tia ou algum amigo. Ou no Parque Villa Lobos, pra dar umas voltas na pista de corrida. E olhe lá.
Já aqui é uma loucura. Primeiro porque é uma cidade pra ser andada a pé (ou de bicicleta!) – e eu que não dirijo enlouqueço em lugares assim. Depois, entra-se de carrinho até no metrô. Os carrinhos aqui são super leves e tecnológicos, com mil peças e acessórios criados com dois objetivos: garantir a portabilidade (ui, que eu falei bonito agora!) e enfiar o maior número possível de crianças dentro de um só.
Assim:
- A criancinha número 1 vai de pé num skatinho acoplado na parte de trás.
- A número 2 senta numa cadeirinha e vai de costas.
- A número 3, menorzinha, deita na poltroninha – o que pra gente seria o carrinho propriamente dito, com o banco convencional.
- E a número 4, recém-nascida, vai pendurada numa rede de tecido que pende do encosto da cadeirinha do número 3.
Tudo isso, atenção, em um único carrinho, empurrado por uma única mãe! Deu pra sentir o drama? Ok, confesso que quatro crianças assim de uma vez eu não vi. Mas vi todos os acessórios citados acima, e muito mais. Imagino que o planejamento familiar daqui seja todo feito em cima disso, Mais um filho, querida? Melhor não, o carrinho já está lotado.
Enfim, me alonguei falando de carrinhos mas o principal assunto aqui é outro. É como a gente é carente de espaços públicos no Brasil. Pra não generalizar, falo por São Paulo. É de um interior a outro, quase sempre. De casa pra outra casa, ou pro restaurante, ou pro shopping, sei lá. Pouquíssimas vezes a gente sai andando com o bebê rumo a um parque, uma praça, um canteiro florido num canto de rua. Quando vai, é de carro.
Eu tô aqui há 20 dias. Nesse tempo, Alice já visitou 2 jardins loucamente floridos, brincou num parquinho com chão emborrachado, viu várias fontes com patinhos, sentou num tanquinho de areia, andou de ônibus, andou de metrô, andou de barco, cruzou a ponte, dormiu à tardinha em praças e viu cangurus. Provavelmente esteve mais ao ar livre nesses 20 dias do que em um ano em São Paulo.
Pois esse é o cotidiano dos bebês daqui. Não só dos bebês, de todo mundo. Os parques e praças ficam lotados no fim da tarde, com gente espichada pelos gramados pra estudar, ler, bater papo ou tomar vinho comendo croissants. A cidade é de uma civilidade absurda nesse sentido. O espaço público é planejado, e funciona. É de matar de inveja, né não? Nem é tanto inveja, é admiração. E uma baita torcida pra um dia isso virar realidade pra gente também.
Agora, algumas fotos ilustrativas para o vosso deleite:
Aqui a pequena Alice ensaia seus passinhos e a ausência de bunda foi trocada por uma avó em júbilo, o que achei válido. O chão GENIAL está mais visível, notem. É emborrachado, gente!