Há alguns meses eu era uma barriguda que lia tudo sobre bebês e me preparava para: dar de mamar, trocar fralda e dar banho. E só. Porque um bebê apenas mama e dorme e faz sujeira, certo? Pois é. Mas um belo dia ele termina de mamar e, em vez de revirar os olhinho e capotar de sono, olha pra você com cara de "e aí?". Então você olha de volta esperando o sono chegar, e ele não chega, os olhinhos continuam pregados em você, abertíssimos, e você se dá conta de que essa criança simplesmente NÃO VAI DORMIR NAS PRÓXIMAS HORAS. Pânico! Porque eu não tinha pensado nessa possibilidade. Não me ocorreu que em algum momento eu precisaria entreter a Alice, além de limpar e alimentar trocentas vezes por dia. Céus! O que fazer, meu Deus, com um bebê acordado???
Alice tinha pouco mais de um mês quando resolveu acordar pra vida. E eu não tinha idéia de como interagir com ela. Sabe falta de assunto? Era mais ou menos isso - e ela sacou e deu pra reclamar, dominada por um tédio mortal. Porque vejam só: a bichinha é absolutamente inepta para o mundo. Tirando funções fisiológicas (bem básicas, diga-se de passagem), ela não sabe fazer absolutamente nada a não ser estar ali, de olhos arregalados, esperando que o mundo se apresente como um lugar interessante.
Foi com muito alívio que percebi que, pra quem não conhece nada, "interessante" pode ser QUALQUER coisa. Basta pôr ao alcance da vista da Alice um brinquedo, um pano, uma revista, uma caixa de remédio. Ou fazer careta, ou levá-la pra frente do espelho, ou acender abajures coloridos.
Barulhos também são muito eficientes. Escovar os dentes na frente dela, por exemplo, funciona surpreendentemente bem. Estalar os lábios, batucar, sapatear. Cantar! Bastar ter um bebê em casa que o impulso de cantar vem incontrolavelmente, já repararam? De Nana Nenê a Sidney Magal, eu despejei nos ouvidos dela o repertório de uma vida. Quando não ocorre música nenhuma, apelo pro lá-lá-lá, hmm-hmm-hmm e até pro ridículo recurso do falar cantando, que funciona assim: “Agora Alice vai tomar banho, pra ficar cheirosinha e ficar bem bonitinha pra visitar a vovóóó”, em ritmo de Marcha Soldado ou coisa parecida. Métrica e rima não importam, mas uma voz bem aguda é fundamental. Ela se esbalda e dá risinhos franzindo o nariz, uma coisa!
Só não tive sucesso ainda com cheiros. Na primeira experiência radical – amassei uma folhinha de manjericão e dei pra ela cheirar – o resultado foi olhão arregalado + choro convulsivo, acho que de susto. Tentei também chocolate, suco de laranja e pasta de dente, sem grandes resultados. Talvez o conceito de cheiro ainda seja muito sofisticado pra ela, sei lá. Ou ela já tenha o cheiro mais delicioso do mundo (mistura de Johnson's, amaciante de roupa e aquele cheirinho de leite típico dos filhotes) e qualquer outra coisa seja inadequada.
Enfim. O fato é que, passado o susto, um bebê acordado é mil vezes mais divertido do que um dormindo. Um bebê acordado ri, levanta as sobrancelhas e dá gritinhos de alegria quando a gente chega perto. Um bebê acordado conversa com os peixinhos do móbile. Um bebê acordado resmunga bravinho quando sua brincadeira lhe parece cretina ou simplória demais. Bebês acordados são irresistivelmente interativos e fofos. E tudo isso me leva a questionar: por que, meu Deus, os bebês precisam dormir tanto???
(dezembro de 2007)