a) empurrar junto o carrinho das malas?
b) subir escadas?
c) fazer xixi?
A coisa mais simples vira missão impossível quando se tem um bebê e nenhuma ajuda. Baita perrengue, não tem fila preferencial que compense - e olha que fila preferencial compensa quase tudo nessa vida.
Bom, e aí o vôo. Sentei na janelinha, sapequei Dramin na pequena e rezei, rezei muito - e nem religiosa eu sou. Rezei pra Alice dormir a viagem toda, pra cadeira do lado estar vazia e pro avião não explodir em nenhum momento. Nessa ordem.
Sentou-se uma garotinha boliviana de uns 10 anos do meu lado. A sorte é que ela era fofa e não reclamou de nada, nunca. O azar é que, por ser fofa e não reclamar de nada, ela não pediu pra trocar de assento - e tinha um lugar vago logo ali pertinho. Mas não, ela ficou ali sentadinha do meu lado, e dormiu loucamente a viagem inteira, uma coisa admirável dadas as circustâncias.
Porque eu pedi um bercinho pra Alice. E o berço fica pregado na parede, entre as duas poltronas, a 2 palmos dos narizes de quem está sentado. Portanto ele te impede de abrir a bandeja, levantar a tv, abaixar para pegar uma coisa caída no chão. E, se você está na janela, ele te impede de levantar e passar. Pra sair é preciso escorregar da cadeira e ir engatinhando até o corredor, passando por cima dos pés do seu vizinho, a cara e dignidade coladas no chão de carpetinho azul.
Até esse ponto eu ainda acreditava, tadinha, que o meu maior problema era ter que rastejar pateticamente e ficar sem filminho por 12 horas. Mas foi pior, muito pior. Eu teria que escrever um texto do tamanho d'Os Lusíadas para dar conta de tudo, mas vou resumir assim: vôo noturno, uma mãe sozinha, uma criança insone, um berço atravancando os movimentos, um copo de suco entornado, um dedo cortado e muitos choques nos cobertores sintéticos, os cabelos estalando por causa da eletricidade estática. As pessoas passavam por mim e quase choravam de pena, e eu quase chorava de auto-pena, e Alice chorava sem pena de ninguém, enfim, um triste espetáculo.
E semana que vem ainda tem a volta, oh God!!!
***
Bom, exercitando meu lado Pollyanna Moça, vou buscar algo de bom nessa história toda e tentar tirar dessa traumática experiência algumas lições.
Acho que a grande dica é: não viaje sozinha com um bebê, ponto. Se essa dica for seguida, praticamente todo o resto é dispensável. Mas como nem sempre é possível, eis algumas medidas que podem aliviar a situação:
NO AEROPORTO
1. Você vai estar com um carrinho de bebê, então libere as mãos como for possível. O melhor é tentar despachar tudo e ficar só uma mochila, que seja ao mesmo tempo sua bolsa e a sacola do bebê. Quanto menos tralha pra carregar, melhor.
2. Fila prioritária, sempre. É um direito e você merece, amiga! Se joga!
3. Aproveite que mães e bebês despertam a simpatia dos passantes e peça ajuda, sem pudor. Tem coisas que você realmente não vai conseguir fazer sozinha.
4. Menor de idade viajando com um dos pais precisa da autorização do outro, reconhecida em cartório, com foto do menor, blá-blá-blá. Se informe pra não correr o risco de perder a viagem - mesmo que ninguém nunca peça o tal documento.
5. O freeshop é uma tentação e um problema. Comprando no embarque, você se enche de coisas pra carregar. No desembarque, além da exaustão, você tem um carrinho de malas pra empurrar junto com o carrinho de bebê, e o carrinho precisa ser deixado na entrada. Então você pegaria fila pra deixar, e fila no caixa, e fila pra retirar, e são 6 da manhã, você quer fazer xixi, sua mãe tá te esperando lá fora desde as 4h30, dá preguiça, e aí já era: você desencana e seus entes queridos ficam sem chocolatinhos nem maquiagens incríveis da MAC (sorry, Mel!). Comprar presentinhos antes e evitar o freeshop me parece uma boa idéia, por mais doloroso que possa ser.
NO AVIÃO
1. Monte um kit de sobrevivência na selva: lenços de papel, lencinhos úmidos pra limpar sujeiras mais grudentas, saquinhos pra juntar lixo, e tudo o que possa servir pra distrair/acalmar o pequeno monstrinho gritalhão: brinquedos, livrinhos, pão, biscoitos, etc (eu apelei e levei chocolate, o que me rendeu bons minutos de silêncio, apesar da lambança).
2. Farmacinha: Valium Dramin ou algum outro remedinho pra chumbar o bebê (receitado pelo pediatra, ok? ), mais reza braba pra ele funcionar. Arsenal anti-ressecamento: soro fisiológico pro nariz (tipo Sorine ou Salsep), manteiga de cacau, hidratante pro rosto, mãos, etc. Uma garrafinha de água vai bem – mas com moderação, cuidado com o xixi! Se você for desastrada como eu, band-aid é uma boa também.
3. Kit básico: fraldas, leite, jantar, aquela coisa toda que vocês estão cansadas de saber. Acho que dá pra pedir comida de bebê, mas nunca tentei. Chequem com a companhia aérea na hora de comprar as passagens.
4. Se você pedir o berço (também com antecedência, na compra da passagem), lembre-se que não vai consegui sair facilmente da poltrona. Portanto, cuidado para não guardar no bagageiro o que for usar durante o vôo. Melhor deixar a mala no chão e manter tudo ao alcance das mãos.
5. Pela mesma razão, as idas ao banheiro são complicadíssimas. Não exagere em água, sucos e afins.
6. Melhor ainda: faça uma cara meiga e sofredora e implore pros comissários tentarem manter o assento ao seu lado vazio. Isso resolveria boa parte do problema de mobilidade e espaço. Ensinar seu bebê a mandar beijinho pra eles pode ajudar bastante.
7. Faça um amigo! Ele vai ser importante na hora de te ajudar com a bandeja, pegar chupetas caídas, olhar o anjinho enquanto você faz xixi, te ajudar com as malas no desembarque. Para isso, ensine seu bebê a mandar beijinho, etc etc.
8. Acho que toda mãe sabe, mas não custa repetir: o ideal é o bebê mamar na subida e na descida, pra aliviar a pressão nos ouvidos.
9 - Antes da dica, uma historinha: lá pelas 3 da manhã, no auge da fúria da Alice, veio um comissário ver o que estava acontecendo, com um olhar que era um misto de pena com "faça alguma coisa, os outros passageiros estão reclamando" - ele não ousou dizer mas estava na cara dele que essa era a questão. Então essa dica não vai para as mães, mas para o resto do mundo: amigos, reclamar porque um bebê está chorando no avião o cúmulo da deselegância. Ele não está chorando porque a mãe quer, e tenham certeza absoluta que ela, mais do que ninguém, está DESESPERADA e fazendo de TUDO pra ele parar. Então poupem a pobre de olhares e resmungos. Podem ter raiva e xingar pra dentro, mas tenham a fineza de não externalizar a coisa. Sério. Não sejam mais um tormento pra essa pobre alma.
É isso, amigas. Se tudo der errado, se alegrem e pensem que pelo menos o avião não explodiu.