Por esses dias me peguei pensando algo que me assustou (e mesmo as mães tem esse tipo de pensamentos assustadores às vezes): "Por que será que meu filho de três anos parecia mais inteligente aos dois anos que agora?".
Deixem-me explicar. Meu filho mais velho é muitíssimo inteligente, não tenho dúvidas quanto a isso. E seu desenvolvimento cognitivo é normal, em alguns aspectos até superior à média (como mãe tenho que destacar isso,né?). Mas o modo como ele aprende agora é diferente. A velocidade também é perceptivelmente diferente. Aos dois anos ele parecia ter mais atenção, facilidade e concentração nos momentos de aprendizagem formal. Agora se dispersa, perde o foco, e até esquece algumas informações que já parecia ter assimilado.
Isso também está acontecendo com você e seu filho? Será que está tudo bem com nossos filhos ou eles estão vivendo algum tipo de regressão?
Para responder a essas questões vamos analisar a opinião de um grande estudioso da aprendizagem infantil chamado Henri Wallon. Ele elaborou uma teoria em que explica o desenvolvimento infantil em fases. Vamos aqui analisar três dessas fases:
0 - 1 ano - estágio impulsivo emocional Marcado pela exploração do próprio corpo,o qual começa a usar para se comunicar, e impulsividade motora. O bebê é guiado por funções fisiológicas: respiração, alimentação, sono. Aidna não é capaz de diferenciar-se do ambiente, tampouco da mãe (sim, ele acha que você é parte constituinte dele). Por meio da afetividade na relação com seus cuidadores vai experimentando o universo ao seu redor. Nessa fase predomina a EMOÇÃO.
1 a 3 anos - estágio sensório-motor e projetivo As principais características dessa fase são o anar e o falar. A criança se ocupa do reconhecimento espacial dos objetos e de si mesma, diversifica sua relação como meio, aparece a linguagem para ajudá-la nessa interação. Desenvolve a capacidade de prolongar uma experiência na lembrança, antecipar, combinar, calcular, imaginar, sonhar. É a fase de descoberta e exploração do mundo externo, e a criança se interessa muito pela repetição de suas ações, pela imitação, e devido a evolução cerebral, seus sentidos se aprimoram, bem como sua coordenação. Nessa fase predomina a COGNIÇÃO pela atividade motora.
3 - 6 anos - estágio do personalismo A criança começa a se conhecer como sujeito. Sabe a expressão "desde que eu me entendo por gente"? Pois é, nessa fase a criança começa a se entender por gente. E ela faz isso através de um curioso mecanismo: por vezes ela expulsa o outro, se opondo a ele para se afirmar (a famosa fase do "dizer não para tudo", teimar e fazer birra), mas ao mesmo tempo ela mobiliza estratégias para seduzir o outro, bem como imitá-lo. É a primeira "crise de identidade". Embora seja de amargar, os pais precisam compreender que ela é necessária para a formação da personalidade da criança, que está ocupada em demarcar "o eu e o outro", condição que permitirá novas conquistas no próximo estágio, especialmente quanto a inteligência. Essas contradições precisam ser adminsitradas com muito cuidado e paciência, especialmente porque todo dia a criança parece sofrer uma reviravolta no modo como interage com as pessoas e o seu ambiente, na ânsia de se auto-afirmar. Como vocÊ ja´deve desconfiar, nessa fase volta a predominar a EMOÇÃO.
Percebe como isso explica a diferença na forma de aprender também? Uma criança entre 1 e 2 anos está totalmente voltada para o aprendizado, para a cognição, seu cérebro está a pleno vapor na tarefa de captar tudo e transformar estímulos em conceitos, percepções, atividades, linguagem. É como pedir para um pianista profissional tocar "parabéns a você": ele vai fazer isso muito bem e sem esforço!
A criança depois dos três anos, porém, vai estar mais voltada para o plano emocional, e isso vai interferir bastante nos momentos de aprendizagem. O que não precisa ser ruim. Porque a emoção tem a propriedade de dar significado à aprendizagem, e assim torná-la duradoura. A criança na fase anterior, se não tiver os estímulos constantemente reforçados ( por hábitos e atividades específicas), não consegue deter a aprendizagem tão facilmente quanto nesta fase posterior. Na realidade, a criança na fase sensório motora está passando por um processo cerebral de "varredura", em que o cérebro vai escolher as conexões mais utilizadas para permanecerem ao longo da vida, e vai dispensar outras conexões não muito usadas. Esse processo diminui na fase do personalismo. E a aprendizagem ganha aspectos mais profundos, a percepção da criança, sua forma de interagir com o objeto, sua consciência, memória, habilidades sensoriais, tudo está mais desenvolvido que na fase anterior, embora agora você tenha que "ajustar o foco" na forma de apresentar os estímulos a ela. Isso pode ser um trabalho diário, porque efetivamente, nessa fase, elas parecem querem algo diferente todos os dias - e até ao mesmo tempo.
Por isso Glenn Doman recomenda que a estimulação da criança deve começar o quanto antes. E afirma que é muito mais fácil ensinar um bebê de dez meses que uma criança de dois anos.E é mais fácil ensinar uma criança de dois anos que uma de três, e assim sucessivamente (capítulo .
O desdobramenteo prático disso aqui em casa, é que eu não preciso fazer tanto esforço para chamar atençao do meu filho menor, de um ano, na hora de apresetnar palavras, sons e qualquer tipo de estímulo formal. Por si só ele concentra toda a sua atenção para as informações oferecidas e atividades propostas. Ainda que o tempo em que se mantém em estado de alerta seja bem curto para uma única atividade, esse tempo prolonga-se muito no caso de uma sucessão de estímulos diferentes, como é o caso do programa de bits e leitura de Doman. E o retorno que ele dá, demonstra que ele fixa grande quantidade de informações numa velocidade extraordinária.
Quando a gente se acostuma com isso, estranha uma fase posterior, onde esse ritmo de aprendizagem dimunui. Mas não podemos perder de vista que, se por um lado, esse ritmo diminui, por outro lado a aprendizagem se aprofunda, e passa a envovler aspectos que com um ou dois anos a criança ainda não atingia. Ou seja, a aprendizagem se torma mais significativa e duradoura. Você vai ter mesmo mais trabalho para ensinar. Mas o retorno vai ser mais rápido e durar pra toda a vida, sem tanta necessidade de repetição: nessa fase a criança não só grava,mas é vapaz de analisar, organizar, combinar e sintetizar informações. Mais importante que ver ela repetindo coisas como um robozinho, vai ser ver ela utilizando essas coisas na prática, inventando meios de aplicá-las em diversas situações, ou seja, se humanizando no melhor sentido do termo.
Portanto tenha em vista sempre (e isso é um conselho para mim também) que é você quem precisa se adaptar às fases de desenvolvimento do seu filho, e não ele a sua ansiedade de vê-lo aprender tudo bem depressa. Saiba respeitar o ritmo e modo de aprendizagem dele, e você verá que os progressos virão de forma muito mais válida e feliz.
(Vinícius com 1 ano e 11 meses, no auge da fase sensório-motora, depois de um mês conhecendo essa apresentação de power point sobre instrumentos musicais, inspirada no método Doman. Atualmente, com 3 anos e meio, ele chama tímpano, conga ou bongô de tambor - desaprendeu o que sabia na escola, onde lhe ensinaram assim: "É de bater com a mão? É tambor". E como ele não teve contato com contextos envolvendo orquestra/instrumentos nesse meio tempo, lá se foi o aprendizado anterior por água abaixo. Oh, sim, precisamos rever esse ppt...)
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