Filhos
Meu Monteiro Lobato foi Jorge Amado
Publicado em 28/04/2009 por Sam Shirashi
Como comentei no post anterior, hoje acontece uma blogagem coletiva muito simpática, organizada por Vanessa do Fio de Ariadne. O interessante - e sinal dos tempos - é que, pelo que entendi (e me corrija se estiver errada), ela organizou a blogagem e depois a Jorge Zahar Editor ofereceu três livros para premiar os participantes - e foi a Zahar quem me convidou, via twitter, para participar da blogagem!
O tema da blogagem (relembrar o autor da sua infância, aquele que fez você se tornar um leitor apaixonado) é tão bacana quanto os livros que a Zahar ofereceu: Seis Graus (O aquecimento global e o que você pode fazer para evitar uma catástrofe, de Mark Lynas), Barbies, bambolês e bolas de bilhar (Joe Schwarcz) e O que Einstein disse ao seu cozinheiro (A ciência na cozinha, de Robert L. Wolkee). Estes dois últimos, confesso, já estiveram nas nossas mãos várias vezes em visitas a livrarias e estão na nossa lista de próximas leituras, pois os temas nos interessam muito e são parte das nossas Conversas de Cozinha.
Mas vamos ao meu Monteiro Lobato. Ele passava pela cozinha também, pois tive uma infância com muitas estantes de livros e felizmente eles estavam em todos os cômodos da casa, sempre disponíveis para quem os desejasse. Ao contrário do meu esposo, filho de um filósofo e uma professora, que conta que os livros muitas vezes eram "do trabalho" dos pais, na minha casa todos os livros estavam à nossa disposição. Fui alfabetizada com sete anos completos, depois que minha Batian já tinha me ensinado em casa rudimentos de hiragana e katakana (trabalho quase em vão, porque até hoje não falo japonês), o que me faz lembrar que em casa os livros podiam ser em vários idiomas, pois meu avô jornalista lia em vários idiomas (alemão, francês e inglês creio) e minha mãe herdou os livros de seu pai - e já contei aqui em detalhes como a biblioteca fez este homem que não conheci se tornar real para mim. Mas em casa não tinham muitos livros de literatura infantil. Quando minha mãe terminou de ler conosco a coleção de Monteiro Lobato, o Mundo da Criança e o Trópico Ilustrado, fiquei sem saber onde mais procurar. E comecei a mexer na parte debaixo da estante, onde os livros ficavam empilhados sem ordem, achando Desobedecendo (Henry Thoreau), Viagem de um naturalista ao redor do mundo (Charles Darwin), José Mauro de Vasconcelos (inclusive livros não tão infantis dele que li e não entendi bem, risos).
Enfim, como disse, não tinha literatura infantil. E eu namorava livros toda vez que a querida revista do Círculo do Livro chegava em casa. Tanto pedi que ela encomendou um para mim (sem me contar) e me fez uma surpresa, ou melhor, um vaticínio na dedicatória ao meu primeiro livro de literatura infantil. Em O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá - uma história de amor, minha mãe escreveu:
"À minha querida fofinha Samantha, todo o carinho da mamãe, desejando que o seu amor pelos livros seja o mesmo que o meu."
E foi. Não posso dizer que foi maior, mas foi o mesmo. Já o meu filho tem um amor maior que o meu, ele cuida, relê infinitas vezes, preserva e conhece sua biblioteca. E, felizmente, os tempos são outros e meu trabalho me permite ter acesso ao que há de novo sem esquecer do que há de bom nos velhos títulos. Gui e eu temos podido manter uma boa biblioteca pessoal para os meninos, continuando a que os avós e tios (das duas famílias, pois, felizmente, somos todos leitores) começaram desde seu nascimento.
E a história de amor do Gato e da Andorinha, tão ao estilo de Jorge Amado, foi uma das primeiras histórias que Enzo ouviu na vida. Tenho filmes e fotos lindas dele conosco na poltrona de amamentar que provam como suas primeiras palavras vieram das ilustrações de Carybé (ou Hector Julio Páride Bernabó, o artista argentino radicado no Brasil). Esta história de amor, que Jorge escreveu para seu filho João Jorge em 1948 (presente de primeiro aniversário), ficou esquecida até 1976, e
tem aquele sabor de pai conversando com filho que a leitura infantil deve ter, o aconhego, a lição sem ser de moral, a vontade sincera de mostrar aos pequenos as verdades do mundo sem deixar que o sol brilhe ao longo da jornada dos pequenos heróis.
Sua abertura traz uma trova de Estêvão da Escuna, poeta popular do Mercado das Sete Portas, na Bahia, e diz
“O mundo só vai prestar Para nele se viver No dia em que a gente ver Um gato maltês casar Com uma alegre andorinha Saindo os dois a voar O noivo e sua noivinha Dom Gato e Dona Andorinha”
E me encanta ser uma ode à tolerância e à realidade de que o mundo só vai melhorar quando aceitarmos as nossas diferenças. Um outro detalhe que vale para os pais que encararem esta leitura com seus filhos: a história de amor acompanha as estações do ano e nos permite apresentar lentamente às crianças algumas das dificuldades, alegrias, sofrimentos e vitórias que são naturais - e que certamente eles vivenciarão em suas vidas.
P.S. Corujando triplamente: Minha mãe agora é blogueira! Ela está mostrando todo seu talento em Louvor e Intercessão e eu estou muito contente (agora posso dizer que, como a @kakah, sou filha de blogueira também). Enzo fez um post sobre seus livros favoritos em Meu Monteiro Lobato é a Ruth Rocha e tanto ele quanto o irmão estão com flickrs onde postam os desenhos que criam no computador. Na semana passada minha irmã querida fez posts sobre o dia nacional da literatura infantil em Monteiro Lobato e 1 livro por semana - ela e @smiletic têm divulgando amplamente nossa comunidade no Pequenos Leitores - você já está lá também?
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