Nessa semana fui surpreendida com a morte de uma criança especial e isso me motivou a escrever sobre essa difícil experiência. Eu não conhecia a mãe da criança, apenas acompanhava os apelos da família para levantar o valor correspondente à compra de uma bateria que seria utilizada para manter os equipamentos do pequeno Davi. Sinceramente, não preciso conhecer a mãe para saber que as lutas, as dores e os medos são os mesmos que os meus. Impossível não se colocar no lugar dessa mãe, impossível não colocar essa dor bem dentro do meu peito...
Ter um filho especial é como ter um código que só pode ser decifrado por mães e familiares que estão na mesma condição. Mãe especial conhece o coração de mãe especial, não precisa de muita intimidade para saber o que se passa em sua cabeça. Por isso, talvez, que essa dor tenha sido tão minha também.
Quando a gente olha um bebê, um dos primeiros sentimentos nos ocorre é fragilidade, a necessidade de cuidados e a quem precisamos ensinar tudo sobre a vida. Quando algo assim acontece, eu me pergunto: quem ensina quem? Essa mãezinha com certeza aprendeu em cada dia ao lado de seu filho e agora terá de trilhar um novo caminho, sem ele em sua vida. A resposta então, meus amigos, é essa mesma: foi esse serzinho quem nos ensinou sobre a vida, sobre as lutas, sobre o verdadeiro sentido da vida. É essa mãe que terá de aprender a lidar com a ausência, com a falta que esse pequeno fará em seu colo e em sua vida.
Como chegar em casa, como se deparar com as roupas, os brinquedos, até mesmo os equipamentos que o ajudavam a mantê-lo vivo? Como conviver com a ausência, a saudade, a dor? Como simplesmente ser? Como fazer o mundo adormecer e esperar que esse coração se acalme? Perguntas sem respostas, ou quase respostas, ou respostas que você não quer aceitar...
Eu pensei, pensei e pensei e quando não mais coube pensamento eu tive vontade de voltar pra casa, de abraçar meu filho... Nessas horas a gente começa a avaliar uma série de coisas, de pensar mais um milhão de outras de coisas. Eu fiquei em silêncio por alguns minutos, eu tive vontade de chorar, o mundo calou dentro de mim. Se existe um sentido para tudo isso? Eu não sei, mas eu acredito que estamos aprendendo sempre, todos os dias, em todos os momentos.
A vida nunca mais será a mesma, haverá um espaço que nunca mais será preenchido, uma ferida que talvez nunca cicatrize, mas que, com o tempo, talvez seja possível conviver com essa dor. Não existe manual para aprender a lidar com a saudade e a ausência, só o tempo é capaz de amadurecer esses sentimentos.
É inevitável reavaliar uma série de coisas quando algo assim acontece. É inevitável não pensar que essas crianças são seres iluminados, fortes, corajosos. Estão entre nós para nos ensinar muito mais do que nós a eles. Eu prefiro pensar que eles nos fazem uma breve visita, nos orientam, mudam nossa vida e nossa alma e partem... Às vezes eles ficam pouco, mas deixam muito...
Revista Pais e Filhos
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