Depois de muitos dias lendo cardápios em alemão e tcheco (e ouvindo todas as piadinhas existentes com a palavra "tcheca", naturalmente), cá estou de volta a Paris, e finalmente me sentindo alfabetizada de novo. Aliás, eu subitamente virei PhD em francês, igualzinho ao que aconteceu com o inglês quando cheguei aqui: em 2 dias eu percebi que master domino o inglês, ha! Referência é tudo.
Daí que a Karenina pediu dicas para viagens com o pequenos. Sobre avião, já escrevi aqui. Viagem de carro a Ju comentouali. Então vou falar da preparação para a viagem, que foi a parte que deu errado dessa vez.
Pois bem: as malas. Sabe aquele truque clássico da Glória Kalil, separe as roupas para a mala, agora tire metade, e é isso o que você realmente vai usar? É um truque ótimo, mas pra bebês funciona diferente: separe as roupas para a mala, agora DOBRE a quantidade de roupas, é pelo menos isso que o seu bebê vai sujar.
Especialmente se seu bebê, como Alice, está naquela fase de comer sozinho. Olha mamãe, sozinha! - e enfia a colher de ponta cabeça goela adentro. Um terror. Então leve todas as roupinhas que couberem na mala, e ainda conte com lavar uma ou outra na pia do hotel de vez em quando - a sorte é que miniroupas secam megarápido.
Importante: na hora da refeição, tire casaquinhos e afins e deixe só a camisetinha de baixo, que há de ser mais baratinha e secar mas rápido, se for o caso. E aqueles babadores plásticos com porta-sujeira são ótimos: recolhem os restos tombados, são fáceis de limpar e a criançada ainda se apega a eles, ó que bonitinho:
Badô (ou: Das reações desproporcionais)
Sobre a mala da mãe: manja aquela calça super básica, begezinha, que vai com tudo? Vale por duas, né? Não amiga, vale por meia. Seu filho pode até comer sozinho, mas a sujeira é conjunta. E mesmo que ele não esteja nessa fase da independência porcalhona, melhor garantir. Porque veja bem: ele pode não comer sozinho, mas em algum momento vai carimbar sua calça com a boca suja de molho de tomate. Ou vai deitar a cabecinha no seu ombro e deixar um rastro de sopa/meleca/leitinho azedo. Ou vai ficar de pé no seu colo com as solas encardidas. Ou bater na sua mão e derrubar o jantar, ou entornar o suco, ou rolar na lama, fazer cocô explosivo, xixi pra cima, vomitinhos all over. As possibilidades são infinitas, de modo que de perto dele limpinha, limpinha você não sai. Há que se pensar nisso antes de fazer uma mala cheia de peças claras ou "coringas", dessas que vc pretende usar mil e uma vezes durante a viagem.
Então esquece Glorinha Kalil e todas as lições sobre "malas econômicas" que você ouviu por aí. Com criança é sempre melhor se precaver. Se joga no malão, se for possível - ou se joga numa capucha de plástico sempre que for se aproximar da fera, pra poupar suas roupas. E caso a mala precise ser econômica, o critério "suja menos" é tão importante quanto o critério "combina com mais".
Outra coisa importante: fazer as malas com antecedência, de preferência com a criaturinha dormindo. Porque, deus do céu, como eles atrapalham! O passatempo da Alice era enfiar no pescoço cada peça de roupa que eu guardava, ou abrir os zíperes das necessaires, ou levar os sapatos pra passear. Depois ficou chiliquenta e passou uma hora inteira aos berros tentando se agarrar na minha perna. Eu, atrasada, fintava a pobre e prosseguia na função, tentando ignorar o show - mas choro de bebê na orelha é uma coisa que abala o miolo mais interno da gente, impossível ignorar, de modo que o saldo, pra mim, foi: mau humor profundo, lágrimas silenciosas dentro do táxi e a mala mais idiota ever: esqueci pijama, camisetas e, céus!, calça jeans. Mala sem calça jeans, notem a gravidade da coisa.
Mas pelo menos eu lembrei de pegar aquela outra calça...
...aquela suuuper coringa...
...o que pode dar errado, afinal?