Existe todo um universo de nojices que a gente só descobre quando vira mãe. Na verdade a gente conhece enquanto é filho, mas só aprendemos a apreciá-lo devidamente quando mudamos de papel: se antes eu dizia “ai mãããe, nhé, que nojento, pára!”, com caretas e tudo mais, hoje sou eu que agarro a Alice e faço toda sorte de coisas nojentas com ela. Nojentas pros outros, claro, porque pra mim é sempre um prazer.
Não precisei nem de uma semana como mãe pra fazer a nojice materna mor: limpar a carinha dela com cuspe. Opa, uma sujeirinha aqui – e dá-lhe lamber o dedo e esfregar a bochecha dela até sair. Isso me enlouquecia quando eu era pequena, mas com a Alice é irresistível.
Outra coisa mais forte do que eu é tirar meleca do nariz dela. Porque a meleca tá toda ali, na portinha, pedindo pra ser pinçada pra fora. Mãe que é mãe pinça, sem a menor cerimônia. E com os dedos, se preciso for. E limpa cocô. E enxuga vomitinho azedo. Remela, xixi, baba – se minha filha fez, eu pego sem problema nenhum. Eu, que sempre fui fresquíssima. Eu, que até ontem tinha ânsia de vômito pra limpar cocô de cachorrinho salsicha. Eu, que jurava de pés juntos que nunca iria virar aquele tipo de mãe, que lambe o dedo pra limpar a cara do filho e pega meleca de nariz.
Nem é tanto essa mudança de comportamento que me choca. Afinal, todo mundo vivia me dizendo que ser mãe muda a gente. O que realmente assusta é me dar conta que estou me transformando na minha própria mãe.