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:: Medinho inconfesso 2
Continuando o post abaixo (após uma pausa dramática picareta): o papo não terminou ali, claro. A conversa seguiu tranquilizadora. Doutor me explicou que faz-se uma lavagenzinha básica pra evitar acidentes, e assunto resolvido. E ainda disse que, de qualquer maneira, na hora isso não tem a menor importância. Como assim, doutor??? Como não tem importância eu fazer cocô na frente do meu marido - e da filmadora do meu marido - num momento sublime como esse? Corta clima total, não pode. Vamos caprichar nessa lavagem, ok?
Então, no dia do parto, rolou a tal lavagem - que na verdade é um supositório laxante que dá uma descarregada geral, a gente fica limpinha e pronta pra ir à luta, sem medo de expelir nada além do nosso bebê fofinho. Só que o meu parto acabou sendo meio rápido e o laxante não tinha acabado de cumprir sua função. Digamos que 90% do assunto estava resolvido, mas os 10% restantes deram as caras naquele empurra-empurra todo. Na frente do Carlos, da câmera e de quem mais quisesse ver, a sala do parto estava uma verdadeira festa. Céus! Meu pesadelo escatológico se concretizou!
E, quer saber? Caguei, literalmente (dúvida: posso falar palavrão nesse blog?). Doutor tinha razão: realmente, não fez A MENOR DIFERENÇA. Juro. Na hora é só um detalhe, tão pequeno e tão bobo perto de tudo que está acontecendo que a gente mal se dá conta - até porque as enfermeiras ficam ali de butuca e dão sumiço na prova do crime rapidinho. Acho que meu marido, que estava na sala o tempo todo, nem ficou sabendo do ocorrido (vai saber agora, oh god!). E o vídeo do parto não dá bandeira nenhuma. A verdade é que se eu não estivesse, nesse exato momento, lançando no infinito universo on-line que eu fiz cocô no parto, ninguém ficaria sabendo. Haha.
Pois eu fiz - pronto, falei. E tô aqui, toda pomposa. Alice tá aqui, toda linda. Meu marido continua me amando, e meu médico continua me aceitando como paciente, e tá tudo muito bem. Passei pela experiênca que julgava ser a mais desmoralizante possível em uma vida humana e a conseqüência foi zero.
Acho que a moral da história é que depois de virar mãe a gente relativiza a importância das coisas e o nosso limite do que é moralmente aceitável fica muito mais flexível. Ser mãe te joga imediatamente num patamar superior, divino e acima do bem e do mal, em que esse tipo de preocupação vira uma futilidade pequena e mundana. Resumindo: mãe pode.
Ou:
Ser mãe te joga, sem pára-quedas, no universo das nojeiras, num mundo de cocô e baba e regurgitos que vêm sem aviso nas horas e locais mais inapropriados, de modo que fazer cocô no parto é apenas um pequeno ritual de boas vindas que diz: olá, agora você é mamãe, bem vinda, e trate já de limpar essa sujeira!
Escolham a linha filosófica que mais lhes aprouver.
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