:: Relato de parto - Lucas
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:: Relato de parto - Lucas



Pronto, eis o relato do nascimento do Lu. Com um ano e um mês de atraso... (e finalizado finalmente a pedido da Renatinha - tá segurando a mocinha aí, dona Rê?)


*AVISO:

MAY CONTAIN NUTS PALAVRAS DE BAIXO CALÃO*


(Marido acabou de me perguntar: "Legal, foi a Dercy que escreveu?", HAHAHAHA! Gente, ó: assim como mulher parindo fala palavrão, mulher lembrando do parto também fala, tá? Eu já editei, tirei alguns, deixei só o estritamente necessário, sem o qual a devida carga dramática não seria atingida. Pela sua compreensão, obrigada.)


Tudo começou numa noite de sexta, dia 29 de julho de 2010. Eu estava com 38 semanas e 5 dias. Comecei a sentir contrações bem frequentes, mas irregulares e fracas. Então me praparei pra parir sábado, domingo, segunda... e nada. Mais uma lição aprendida: o pródromo – início do trabalho de parto – pode durar dias. Ó, quem diria? E assim, entre contrações infinitas, indolores e improdutivas, fomos até a madrugada de quinta, dia 5/08.

Senti uma contração mais forte às 0h43. Fui fazer xixi e notei um sanguinho. Hum. Deitei, esperei um tico e pluft!, a bolsa rompeu às 0h45. Água, água, água. Banho rápido, pegar a mala e bora parir, Mariana! (Alice estava dormindo, e a gente já tinha um esquema pronto para o caso de ter que sair de madrugada: minha mãe viria pra casa para ficar com ela e de manhã a levaria na maternidade.)

Lá fomos nós.

(Pergunta: como uma fêmea lida com essa questão da água? Não há modess que resolva, gents! É um bo-ca-do de água vindo de tempos em tempos. Por sorte eu tinha cá comigo um pacote daquele absorvente-fraldão que se usa no pós-parto, que ganhei da minha cunhada. Não fossem os fraldões, eu e o carro teríamos chegado encharcados no hospital. Sem fraldão, comofaz?)

Chegamos na triagem perto das 2h: 2 pra 3 dedos de dilatação. Achei uma beleza, pois estava tendo contrações regulares há menos de duas horas (no parto da Alice foram nove até eu chegar nos 2 dedos).

Conseguimos a sala de parto humanizado - que é sala de parto e quarto ao mesmo tempo, tanto que me entoque ali, pari e só fui sair dias depois. Era um quarto espaçoso, com banheira, controle de luz e livre acesso para as visitas, como eu queria. Tentei dormir, mas não deu. As contrações estavam mais freqüentes e fortes, embora a dor fosse bem tranquila. Então fui andar pelos corredores e fazer exercícios na bola de pilates até a hora de acontecer alguma coisa.

Lá pelas 6h chegou meu obstetra. Toque: 4 dedos e colo alto e duro, o bebê lááá em cima. Saco. Ele recomendou ocitocina, pra acelerar. Olha, eu cheguei ali super “não interventiva”, querendo deixar rolar naturalmente, me programando pra segurar a anestesia ao máximo, aquela coisa toda. Mas confesso que na hora me bateu uma agonia de ficar ali esperando sei lá quantas horas o diacho do colo amolecer, considerando que eu:

a) estava com a bolsa rompida há algumas horas;

b) eram quase 7h da manhã, eu não tinha dormido picas e nem iria pelo próximo mês, no mínimo;

c) tive a mesma demora louca no primeiro parto.

Ok, ocitocina na veia, sem crise. Vamos em frente.

Chegou o anestesista, expliquei o que eu queria: uma anestesia leve, pra aliviar a dor sem imobilizar as pernas. E eu queria tomar só se a dor estivesse bem pesada, caso contrario dispensaria – gente, que orgulho falar isso em voz alta! Feita a pose de durona, eles saíram e fui pra banheira, ê delícia!

Banheira nessa hora é um espetáculo. Relaxante, quentinha e com um jato forte massageando a lomba - tudo o que eu queria naquela hora. Fiquei ali largadona um tempão. Esse parto vai ser baba, fichinha, mamão com açúcar, pensei com meus botões.

Foi ter esse singelo pensamento, e começou a doer PARA CARALEO.

Nesse ponto, as contrações vinham de 4 em 4 minutos e duravam uns 30 segundos. Vinham cada vez mais fortes e doloridas. Ok, se a dor vai ser por aí, nem fo-den-do. Que mané parto natureba nada, essa gente é looooouca, chamem o anestesista djá! Lá se foi minha coragem. Mas pelo menos eu consegui ter noção da dor, coisa que não tive no primeiro parto, pois pedi anestesia muito cedo. Vivi um pouco da experiência de ficar maluca de dor, não curti, muito obrigada, passo. Isso me fez ficar mais tranqüila com a minha decisão, em vez de ficar naquele “será que dava?” indefinido. Não, não dava. Sem crise (crise é uma escolha, né não? Eu acho.). Vamos em frente.

Saí da banheira e voltei para a bola. Rebola, pula, faz balancinho... nada de aliviar a dor. Anda. Senta. Procura posição. Cadê o anestesista, caceta???

O engraçadinho estava tomando um cafezinho sabe-se lá onde, e demorou uns 40 minutos pra chegar. Longuíssimos e desagradabilíssimos 40 minutos, diga-se de passagem. Doía muito, e não era nas costas, como eu esperava. Era na frente, provavelmente no colo do útero, que não cedia. Agarrei a mão do Carlos e apertei tanto, coitado. Aos maridos, a lição: nunca dêem a mão útil, prefiram sempre a canhota, porque nunca se sabe.

Novo toque: 6 cm de dilatação e colo ainda alto. Finalmente o anestesista apareceu. Nesse ponto eu suava de dor, sentia as costas pingando, ofendia geral, ria, resmungava, eu estava meio encapetada. A anestesia foi mais chatinha dessa vez porque a cada contração ele tinha que parar. E eu lá, suando & xingando, haha! Uma verdadeira lady. Mas sem crise: mulher parindo pode xingar, está no estatuto. Vamos em frente.

Quando a anestesia pegou foi aquela alegria. E aí eu vou ter que fazer justiça: eu amo anestesia. Se ainda tinha algumas dúvidas, ali, naquela hora, eu fiz as pazes com ela de vez. Porque ela me trouxe de volta o prazer do parto. Com a dor não tava legal, tava péssimo. Eu só queria que aquilo acabasse de uma vez – não era essa a lembrança que eu queria guardar, pô! Anestesia dada, eu pude curtir o momento.

** Alô leitor, estou dizendo que parto com anestesia é melhor? NÃÃÃO! Estou dizendo que EU preferi assim, pois EU sou uma bundona que não guenta, não topa, não quer sentir dor. Sigo pagando um pau federal para as bravas parideiras que enfrentam dor e medo em nome de um parto sem intervenção, que é INDISCUTIVELMENTE mais saudável. A questão é: eu banquei os riscos e malefícios da anestesia (pequenos, a meu ver) pelo conforto (absolutamente ENORME) que a anestesia me trouxe. Foi uma decisão egoísta? Sim. Pensei em mim mais do que no Lucas? Sim. Na balança do custo-benefício, achei que valeu a pena? Sim. Sou uma vaca? Hum, dúvidas... mas acho que não (até porque uma vaca teria o bezerrinho dela sem anestesia, certeza... hoho!). Enfim: o bebê é importante, mas eu também sou. Guardem as pedras até eu desenvolver esse raciocínio, porque ele é longo e vai ficar pra outro post, tá? **

A dose foi perfeita dessa vez: aliviou bem a dor mas não me "tirou" as pernas. Eu sentia, mexia, percebia as contrações e a pressão da descida do Lucas. Com isso fique bem mais conectada dessa vez, bem mais presente.

(No parto da Alice eu cometi dois erros crassos: pesei a mão na anestesia e fiquei focada em bobagens, tipo trilha sonora ou medo de fazer cocô. Então pluft!, pari Alice e eu mal me dei conta, concentrada que estava na música que tinha que ser perfeita. Fui idiota, perdi o momento total. Big mistake. Dessa vez resolvi focar no parto e nada mais, dane-se musiquinha e big dane-se cocô!)

Como o colo seguia alto a ordem era empurrar. Em geral isso só ocorre com dilatação completa, mas nesse caso empurrar faria a cabeça do Lucas forçar o colo pra baixo. Então eu fazia força junto com as contrações.

Lá pelas 8h30 minha mãe chegou trazendo a Alice. Mamãe aflita saiu da sala, mas Lili ficou, interessadíssima no processo (após um susto inicial: “pela xoxota???” Hahaha!). Senti com os dedos a cabecinha do Lucas coroando, e pude vê-la por um espelhinho de bolsa – moças, não esqueçam o espelhinho, sério, a visão é incrível! Eu estava super conectada, focada em cada contração, cafunezando o menino embutido nos intervalos (não imaginem a cena). Estava calma, presente, sem dor, sem ligar pra cocô, com Carlos e Alice ao meu lado, numa relax numa traquila numa boa. Parto delícia, tudo lindo.

Não foi feita episiotomia dessa vez, e tive uma laceração grau 1 (leve, que não chegou no músculo). Sinceramente? Com episio, com laceração, pra mim foi tudo a mesma merda. Os pontos doeram um bocado e atrapalharam minha vida por umas semanas. Depois passou. Eu devo ser mesmo bem fresquinha, porque tem muita gente que não sofre muito com esses pontos, mas pra mim é sempre a pior parte, de longe.

Luquinhas deu as caras às 10h45. Nasceu com 3,250kg, 49cm, apgar 10/10.

Veio direto para o meu colo, com a cara de bravo que lhe era peculiar. Diante do seu olhar emputecido, eu dei risada. Sei que é um momento sublime, transcendental, talvez eu devesse ter chorado de alegria ou me comovido ou entoado um mantra feito a Gisele, mas sei lá, quando um neném recém-nascido olha pra mãe que lhe pariu muito puto da vida é engraçado, vai? Ele ficou dengando ali no meu colo, ainda com o cordão, que só foi cortado depois de parar de pulsar. Saiu para os procedimentos de praxe - pesagem, limpezinha rápida, colírio, etc - voltou e se atracou no meu peito por 1 hora direto. Lá nas partes baixas toda uma ação se seguiu – expulsão da placenta, pontos e tal - mas eu nem tomei conhecimento, tão besta que estava com Luquinhas no colo. Também não percebi quando a sala foi sendo rearrumada para virar quarto, e logo as gentes queridas foram chegando para conhecer o pequeno.



Alice, no colo do pai, acompanhou tudo. Conversei com ela durante o processo, Carlos mostrava e explicava o que estava acontecendo, e a calma dele a deixou segura o tempo todo. Ela curtiu, não me pareceu impressionada em nenhum momento. Crianças têm essas saídas espertas para lidar com as coisas que não entendem, e a dela, pra processar aquele sangue todo, foi o famoso “ele nasceu com catchup na cabeça!”. Fico muito feliz que ela tenha participado, e acho que foi bem importante para ela também. Na escola vieram me perguntar se era verdade que ela tinha assistido ao parto, pois quando contou os adultos ficaram em dúvida se ela tinha mesmo visto ou só estava repetindo algo que ouviu. As reações são engraçadas, meio exageradas, como se fosse um grande absurdo. A gente não chegou a refletir muito sobre isso, não planejou nada - ela simplesmente chegou, foi pro colo do Carlos e viu tudo. Mas acho que foi o certo. Ela foi incluída em um momento decisivo da nossa família. E acho que vai crescer achando parto algo natural, e sem o medo que eu tive - desde sempre - de parir.





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