Como criar um filho bilíngue
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Como criar um filho bilíngue


Neste post vou falar sobre os principais métodos (sistemas) utilizados pelas famílias para criar filhos bilíngues.

Mas antes disso, cabe explicar o que são esses sistemas. Dentre as inúmeras formas de se criar um filho bilíngue, estão estes sistemas.
Além dos métodos adiante, os pais podem:
- Mandar a criança para intercâmbio;
- Colocar o filho em uma escola bilíngue;
- Contratar uma babá bilíngue; e por aí vai.

Estes sistemas são as "regras da família". Deve-se ter em mente que a maioria das publicações sobre o assunto se foca em casais multilíngues que criam filhos bilíngues. Como é o caso de uma brasileira casada com um japonês, ou de dois chineses morando no Brasil. Mas nada impede que pais não-nativos os apliquem com o mesmo grau de sucesso!
O que eu percebi é que estes sistemas não estão necessariamente ligados à situação do casal, e sim com a vontade dele!

Vou explicar cada um depois retomo o raciocínio. Os 2 sistemas mais utilizados são:

One Parent, One Language (OPOL)
Um pai, uma língua.

Neste sistema, cada pai se utiliza exclusivamente de um idioma para falar com a criança. Isso geralmente ocorre quando os pais não possuem a mesma língua nativa, e cada um decide falar com o(a) filho(a) em seu idioma nativo.
Com isso, a criança aprende o idioma nativo de cada um dos pais. E cada um deles se sente satisfeito em poder falar com seu filho em seu idioma nativo.
Algumas complicações podem aparecer caso um ou ambos dos pais não dominem bem o idioma do outro. Isso pode fazer com que este pai se sinta excluído de certas conversas ou atividades.

OPOL no Brasil!
Não existe nenhuma limitação que impeça a um casal não-nativo se utilize do sistema.
Esse é o sistema que nós utilizamos em casa, mesmo não sendo falantes nativos de inglês.
Funciona assim: eu sempre uso o inglês quando falo com a minha filha, e minha esposa sempre usa o português.
Decidimos que seria assim pois desejamos que o português dela seja um pouco mais forte que o inglês, pelo menos na primeira infância, uma vez que ela passa mais tempo com a mãe.
Esse método prega certa consistência. Ficar oscilando muito entre as línguas confunde a criança e pode ocasionar em uma mistura de idiomas.

Mas, morando no Brasil, como fazer isso? Simples. (nem tanto, mas tudo bem.) Sempre que eu falo COM a minha filha, eu uso o inglês. Em qualquer outra situação uso o português.
Em situações onde estão outras pessoas, eu julgo de acordo com a hora se é necessária uma tradução logo em seguida, ou não. Explico: as vezes, estamos com outras crianças da família ou com os avós da minha filha, e eu falo algo para ela. Nesse caso, cabe uma tradução, para que a família possa participar do momento.
Já em situações onde quem está perto são estranhos, ou em situações muito íntimas, uso o inglês sem traduzir depois. Se você vai usar este sistema, ou o próximo que eu explicarei, se prepare, pois muitos irão dizer que "é falta de educação falar em outra língua na frente dos outros". Alguns ainda completam: "pois eles não vão saber do que você está falando". A melhor resposta para isso: "Na verdade, falta de educação é achar que você tem o direito de ouvir a conversa dos outros!". Não sei de onde tiraram a conclusão que eles TÊM DIREITO (?!) a ouvir o que eu falo COM A MINHA FILHA. Mas, infelizmente, é isso que muitos pensam. E pior, pensam que podem/devem nos dar bronca por causa disso!!!
Apenas para exemplificar: imaginem uma família (casal + filho) vegetariana na praça de alimentação do shopping, quando pedem 3 saladas. Aí, o atendente sugere um bife para a criança, pois ela está em fase de crescimento. Educadamente, os pais explicam que eles são vegetarianos. O atendente, então, critica a decisão dos pais, e fala que isso é um absurdo!
Por incrível que parece, existe gente assim. E isso também ocorre com o bilinguismo.
Mas calma, você deve estar pensando que se começar a aplicar um desses sistemas o mundo vai se virar contra você. Não é nada disso. Estou avisando, que existem pessoas assim, mas são a exceção, e não a regra. Muitos admiram a iniciativa. Alguns jovens e crianças chegam a falar "poxa, queria que meus pais tivessem me criado assim". Alguns apenas estranham. E outros nem percebem o que está acontecendo.

Minority Language at Home (ML@H, MLaH)
Língua Minoritária em Casa

Nesse sistema, a língua minoritária será usada com exclusividade em casa. Cabe explicar o que seria a língua minoritária: ela é a língua não oficial da comunidade. Exemplo: a língua majoritária no Japão é o japonês. Logo, no Japão, o português é uma língua minoritária.
O termo "casa" também deve ser explicado. Ele não se refere ao domicílio, e sim à família. Então, a família, entre si, usará a língua minoritária.
Como exemplo podemos citar um casal brasileiro que vai morar no Japão e continua usando o português entre si. A comunidade (escola, amigos) irá ensinar o outro idioma à criança. Nesse caso, o japonês.
[Adicionado: Cabe ressaltar que, nesse caso, a criança pode sofrer um choque maior ao ser inserida em um ambiente onde o idioma falado não lhe é familiar. Crianças que desde cedo frequentam creches no outro idioma não devem estranhar, mas crianças maiores de dois anos podem se frustrar ao, de repente, não entender mais nada. Tratarei mais sobre o assunto em outro post.]

ML@H no Brasil!
Aqui o caso seria ambos os pais falarem com a criança em um outro idioma, que não o português.
Nesse caso, morando no Brasil, a comunidade (outros familiares, escola, amigos, etc.) vão ser responsáveis por ensinar o português à criança, enquanto os pais ensinam o idioma minoritário.
Nessa situação, o ideal seria que ambos os pais fossem fluentes no idioma a ser adotado, e que esse idioma minoritário fosse utilizado COM (relativa) EXCLUSIVIDADE em casa. Inclusive entre os pais.

Uma terceira opção

Uma terceira opção seria misturar os dois sistemas acima. Cada pai fala em um idioma minoritário com a criança, e a comunidade fica responsável por ensinar o idioma majoritário. Nesse caso, a criança crescerá falando 3 línguas (uma de cada pai, mais a da comunidade).

Isso é o básico de cada sistema. Com essas informações você já deve estar mais situado para ler outros textos e compreender melhor cada sistema, e, com isso, escolher aquele que é mais adequado a sua família.
No futuro tentarei me aprofundar mais em cada um deles e suas ramificações.
Mas perceba que os sistemas estão ligados com a vontade da família. Todos eles são "certos". O que deve ser observado é "qual é o certo para a sua família".
Alguns pais não se sentem a vontade falando em outro idioma com seus filhos, ou com sua esposa (ou marido).* Nesses casos, estes sistemas se tornam inviáveis. Afinal, não vale a pena comprometer seu relacionamento com seus filhos ou esposa por um sistema linguístico forçado! A escolha deve parecer a certa, caso contrário, ela não o é!
Outro aspecto importante: a escolha é do casal. Só! Familiares, filhos, vizinhos, amigos, cachorros, etc. NÃO PODEM OPINAR!

* confesso que foi estranho começar a falar com minha filha em inglês. Mas eu estava decidido! Foi estranho, mas era o que eu queria. 

Lembrem-se, qualquer coisa estamos a disposição para tirar qualquer dúvida que possa surgir, inclusive sobre algum tópico que ainda não foi objeto de um post.





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