Filhos
Relato: A Longa Ausência
Antes de iniciar o relato, preciso contar um pouco do que aconteceu.
Nós morávamos em São Paulo-SP, onde eu atuava como consultor de Comunicação Corporativa (Branding) e de Comércio Internacional (COMEX) [Não errei a digitação, sei que as duas atividades não são muito correlatas, mas era o que eu fazia rs].
No início de 2014, comecei a atuar na Controladoria da Presidência da República (CGU) em Brasília-DF. Para efetuar tal mudança, precisei vir antes para Brasília para organizar a mudança, escolher moradia, etc. enquanto trabalhava.
Já sabíamos que a mudança só iria acontecer dois meses depois da minha partida.
Além de toda a ansiedade causada pela mudança (pois nunca havia morado em nenhum outro Estado), e de todo o peso no peito por ficar longe das crianças numa fase onde perder um mês significa perder diversos marcos de desenvolvimento, eventualmente nos demos conta de que, se mantivéssemos o sistema OPOL (eu inglês e a Patty português), eles ficariam dois meses sem contato com o inglês.
[Mais sobre os métodos para se criar um filho bilíngue nesse post.]
Por conta disso, começamos a pensar em formas de contornar a situação. As crianças já assistiam TV apenas em inglês, então não mudamos isso. Mas sabemos que o contato humano transmite vocabulário muito melhor do que um programa de TV. Isso ocorre, pois a criança atua de forma passiva com a televisão, não podendo interagir com a mesma. Ainda que alguns programas incentivem algum nível de interação (Mickey Mouse Club-House e Pocoyo, por exemplo), a criança não recebe uma reação genuína à sua ação. Quando ela interage com um adulto, ela recebe uma reação genuína e imediata para tudo que fala. Se ela fala algo incompreensível, recebe uma cara de interrogação, o que vai fazê-la reestruturar a frase, ou corrigir a pronuncia.
A saída que encontramos foi suspender temporariamente o OPOL. A Patty começou a fazer um sistema de divisão das línguas por horário. Do momento que eles acordavam, até depois do almoço, apenas o inglês era utilizado. Depois do almoço, até a hora de dormir, ela usava o português.
Evidentemente, eu ligava todos os dias de noite para falar com eles. Conseguimos, inclusive, fazer algumas vídeo-chamadas pra amenizar a saudade.
O resultado dessa ausência foi neutro (Linguisticamente falando, lógico, pois à parte emocional foi difícil. Até hoje ela ocasionalmente me pergunta se eu vou voltar ?hoje? quando saio pra trabalhar.).
Quando eu digo que foi neutro, é porque não verificamos nenhum atraso no vocabulário que ela já tinha. Não verificamos nenhuma dificuldade em compreender um ou outro idioma. E, principalmente, não houve nenhum tipo de antipatia por nenhuma das línguas.
Notamos, porém, que durante esse período (talvez devido ao contato mais frequente com a avó) ela passou a utilizar mais o português. Poucas semanas após meu retorno, a divisão voltou a ser equilibrada.
A situação foi facilitada por termos respeitado um sistema relativamente rígido ao longo da criação dela. Identificamos que o contato com o inglês era prejudicado pela localidade geográfica (Brasil), por isso, procuramos sempre oferecer outros tipos de exposição ao idioma, como livros, músicas e televisão.
Para a manutenção do segundo idioma na minha ausência, o fato de que minha esposa também é fluente em inglês, sem dúvida, auxiliou muito para essa conquista. Em situações similares, onde o pai viaja por muito tempo e a mãe não seja fluente naquele idioma (ou vice versa), é importantíssimo garantir um contato da criança com o idioma, seja com livros, filmes, músicas, parentes, playdates (grupos de brincadeira naquele idioma). Caso a mãe possua algum conhecimento no idioma, por mais básico que seja, sugiro que ela o utilize com a criança durante a ausência do pai (Por algumas horas por dia ou alguns dias na semana). Lembrando que ?algum contato é melhor que nenhum contato?.
Um grande abraço!
PS.: Que belo começo de Copa do Mundo! 3x0! Vai Brasil!
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