:: Casper, the friendly ghost
Filhos

:: Casper, the friendly ghost



Bebês, como os cachorros, vêem coisas que não estão ali. Em casa é assim: o Chicão late pro nada, a Lana se arrepia olhando um canto vazio e Alice ri às gargalhadas para um quadro na parede.


Eu achei bonitinho no começo. Era fofo vê-la rindo e agitando bracinhos pra um pôster do Matisse, eu olhava embevecida e pensava, tão pequena e já desenvolveu todo um apuro artístico. Acontece que a reação foi ficando um pouco exagerada. Não eram apenas sorrisos, eram espasmos de graça. Súbitos. Ela parava tudo, olhava atenta e QUÁ-QUÁ-QUÁ!, assim, sem mais nem menos. Então eu comecei a ficar com medinho. Porque aquilo não era observação, aquilo era interação. Alice definitivamente via alguma coisa ali. Ou tinha alguém/algo circulando pela casa, ou minha filha tem uma psicose criatividade galopante.


Aqui em Paris a coisa deu uma sossegada, e quando eu já respirava aliviada por não termos alugado um apartamento poltergeist (já ouvi histórias pavorosas a respeito...), tomo outro susto. Alice tá nessa fase bonitinha de oferecer a comida dela pra todos à mesa, e outro dia foi assim: colherada pra papai, colherada pra mamãe, e colherada pra um lugar vazio na ponta da mesa. Arrepios.


E aí tem a babá eletrônica. Eu tenho a fantasia sinistra de que um dia vou ouvir as vozes dos amigos imaginários (ou não?) da Alice pela babá eletrônica. Morro de medo. Quando estou sozinha com ela, deixo o radinho beeeem baixinho por medo de ouvir COISAS no quarto dela. 


Agora me diz: pode uma mãe ser banana desse jeito? Imagina a minha autoridade pra dizer "tá tudo bem, filha!" quando ela vier pra minha cama no meio da noite, com medo de alguma coisa? Tudo bem nada, vamos é pular as duas debaixo das cobertas e agarrar muito o Carlos. Porque alguém tem que ser mãe numa horas dessa - e eu definitivamente não me qualifico.






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