:: De onde viemos, para onde vamos?
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:: De onde viemos, para onde vamos?



Eu devo ser muito babaca mesmo.

Porque eu me acho super bem resolvida (cof cof). Eu sou moderna e despudorada. Eu topo falar de-tu-do. Eu sou assim, mais devassa que a Sandy, sabe? Com muito orgulho.

Aí minha filha me faz uma simples pergunta (pergunta esta que vem causando constrangimentos geração após geração) e eu, que me achava inabalável, quase caio pra trás de nervoso.

Veja bem. A gente é moderninho, a gente é descolado, a gente é super prafrentex (se é que alguém que diz "prafrentex" pode de fato o ser). Mas bota uma criancinha perguntando como um bebê foi parar dentro de uma barriga? A modernidade vai pelo ralo, a voz treme, as bochechas adquirem um bonito tom rosa carmim. Vira-se quase uma carmelita descalça, tamanho o pudor.

Eu ouvi a pergunta na semana passada. À queima-roupa, gente. Sem nenhuma preparação, nenhum aviso, sem um vinhozinho antes. Primeiro fiquei em choque com a pergunta em si, depois fiquei em choque com a minha reação desproporcional, e depois me dei conta que eu não tinha uma resposta preparada.

E não é que eu nunca tivesse pensado no assunto. Já pensei um bocado. Aliás, acho que eu penso nisso desde o desconcertante dia em que soube a resposta pra essa pergunta. Tô meio que esperando a bomba desde a gravidez e parto do Lucas - que Alice assistiu, de modo que já sabe por onde os bebês saem da barriga, o que é meio caminho andado, certo? Mas é aquela coisa: a gente sabe que um dia a pergunta vem, mas entra num processo louco de negação e pensa: Ok, um dia ela vai perguntar, mas não vai ser hoje. Agora podemos mudar de assunto e torcer pra ela ter essa curiosidade na presença de outra pessoa? Brigada.

Mas um dia, é hoje. Um dia a pergunta chega, e vai ser exatamente na nossa presença. "Estar pronto é tudo", já dizia o Shakespeare pela boca do Hamlet em mil seiscentos e bolinha (Hamlet era meio pinel mas tinha lá alguma sabedoria).

Hamlet que me desculpe, mas óbvio que eu não estava pronta.

Eu já tinha lido historinhas, beijado a testa, dado boa noite e ajeitado o lençol. Estava deitada do ladinho dela esperando o sono chegar (melhor do que esperar sentada...). 5 minutos de silêncio, e a pequena resolve, do nada, que chegou a hora de saber:

- Mamãe, como o Lu entrou na sua barriga?

E aí, mamãe moderna e descolada e que falatudosobresexo? Como você se sai dessa?


Opção a)
A verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade. E de forma bem gráfica, porque no nervoso da coisa você perde a mão e não poupa a criança de n-e-n-h-u-m detalhe. Ela termina o papo mais informada do que Marta Suplicy, Sue Johanson e Jairo Bouer juntos, e um tantinho traumatizada.

Opção b)
Meias verdades. Respostas vagas envolvendo sementinhas e abraço apertados, mais a torcida louca para ela não se aprofundar nas dúvidas porque senão, amiga, você tá numa sinuca.

Opção c)
Papinho picareta. Cegonha, Deus, Bebelândia e afins. O objetivo é ganhar alguns anos para elaborar uma resposta mais convincente.

Opção d)
Você se faz de sonsa. Ó, não sei, pergunta para a sua professora e depois me conta?

Opção e)
Fuga. Você abdica de toda e qualquer dignidade e simula um desmaio.


Pois eu recorri à ridícula, vergonhosa e desprovida de qualquer decência opção e.

Ou quase. Na verdade, eu fingi que estava dormindo.

Porque né, deitada em silêncio há 5 minutos, quem iria perder essa oportunidade? Calei-me e esperei ela desistir (o que levou um certo tempo e me fez mergulhar fundo na mentira e resmungar com a voz sonolenta, filha, tô dormindo, amanhã a gente conversa...).

Amanhã ela esqueceu, ufa. Mas vai se lembrar da dúvida a qualquer momento. Quando eu menos esperar, pimba! Lá vem.

Estar pronto é tudo.

Parece fácil, né?

É que Hamlet não tinha filhos.




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