Com criancinha é assim: palavras vêm e vão, são aves de verão.
Eu ainda estava processando internamente todo o orgulho de ter uma filha que falava danoninho, e o danoninho se foi. De tanto eu exibir sua nova aquisição linguística pros passantes, (“fala danoninho, filha”!), ela se revoltou e deletou a palavra da cachola. Em contrapartida, adquiriu uma nova, pronunciada com a mesma perfeição: cocô. Essa ela mesma se encarrega de exibir por aí, sempre que obedece ao chamado mais primal da natureza. Basta sentar num restaurante, comer meia dúzia de tecos de queijo, e pronto: ela faz uma cara infeliz, franze uma ruga entre as sobrancelhas e anuncia, em alto e bom som: cocô!, fazendo um biquinho e apontando as fraldas pra enfatizar. Um daqueles momentos em que eu agradeço ao Senhor por estar morando num país em que ninguém entende picas de português.
O que a bobinha não sabe é que cocô é única coisa da vidinha dela que se auto-anuncia. Ela não precisa dizer nada, nem fazer careta, nem apontar os fundilhos: a coisa simplesmente vem, silenciosa e mortal, e pra quem tá em volta não resta sombra de dúvida: sabe-se a quilômetros de distância o que acaba de se passar naquela fralda.
Enfim, apesar de ser constrangedor, achei um avanço e tanto, e hei de providenciar um peniquinho pra já. Porque, veja bem: uma pequena e adorável tirana que já sabe - com certa pompa até - anunciar o próprio cocô, só falta mesmo sentar no troninho e reinar absoluta para todo o sempre.