:: Ainda sobre parto - perguntas e considerações
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:: Ainda sobre parto - perguntas e considerações


Me perguntaram onde foi o parto do Lucas, como foi isso da Alice assistir. Tive o Lucas no Einstein e a Alice no São Luiz. Em ambos, pedi as salas de parto humanizado (que por incrível que pareça não são tão requisitadas como eu imaginava, já que a maioria das mulheres prefere ir direto para a cesárea). Nos dois partos entrou na sala quem eu quis, sem taxas de acompanhantes ou exigência de roupinha especial. Mas eu não tenho muita clareza sobre as regras dos hospitais. Em uma visita ao Einstein eu perguntei sobre a entrada livre de visitas durante o parto, e o funcionário me olhou de olhos arregalados e disse que não podia - mas eu não sei se não podia de fato ou se ele é que achava a ideia absurda. Quando conversei sobre isso com meu médico, ele riu e disse: "relaxa, na hora a gente dá um jeito". E deu. A minha impressão é que a autoridade nesse sentido é o médico, ele apita mais que o hospital. Se o médico topar, ninguém se opõe. Não sei se isso se aplica sempre, não sei se o meu médico é que é muito bem relacionado nos dois hospitais, não sei como é no sistema público. Essa é a minha experiência, mas é bom lembrar que foram partos burguesinho e particulares, em maternidades cheias de salamaleques. Não dá pra generalizar, ok? Vale conversar com o seu obstetra antes e checar a possibilidade.

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Lia levantou uma questão importante: é muito difícil conseguir um parto natural sem uma equipe especializada. Porque não é só uma questão de vontade, tem um apoio moral e físico ali na hora que é muito específico e absolutamente fundamental. O parto ser domiciliar também faz diferença: eu imagino que muitas mães que tiveram parto domiciliar, se estivesse em um hospital, com acesso a anestesia, teriam desistido e caído na cascata de interveções – com altíssimas chances de arrependimento e sensação de autosabotagem depois. Estar em casa meio que te força a ir adiante, é quase uma autosabotagem para evitar a autosabotagem. Quem preferir um parto natural hospitalar (eu seria desse time, não tenho a menor vontade de parir em casa. Nem vontade, nem coragem, nem roupa de cama ou camisolas suficientes para lidar com o mar de sangue...) precisa deixar muito claro para a equipe que precisa desse apoio para não desistir.

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Uma vez Carol escreveu sobre o seu plano de parto e citou um tal parto “meio humanizado” que lhe foi sugerido (e que ela quis mandar pra a PQP, haha). Isso me marcou porque, confesso, eu vesti uma carapuça louca. Achei que um parto “meio humanizado” servia direitinho pra mim, considerando as limitações que eu sei que tenho. Eu bato os pés nas questões que acho mais importantes, mas aceito intervenções que, pra mim, valem a pena. Facilitam. Poupam. Trazem segurança.

Na minha ordem de prioridades, um pós-nascimento delicado é o mais importante, e dele faço questão: luz baixa, ambiente silencioso, colo imediato, mãe e filho grudados, a família ao lado, cordão que pára de pulsar antes de ser cortado, amamentação livre desde o primeiro momento. Tudo isso correu exatamente como eu esperava.

Quanto ao processo todo do parto, eu fiz concessões onde achei que dava, em nome de um conforto que considero importante. Entendi, na medida do possível para uma leiga, os riscos e benefícios implicados em cada etapa. Escolhi um parto normal hospitalar, topei algumas intervenções, expliquei para o obstetra o que esperava, o que aceitava, o que fazia questão em cada fase. E acho que tive um parto incrível. Acho que o Lucas chegou da forma mais respeitosa e tranquila, para ele e para mim, que eu consegui. Essa sou eu, bancando as escolhas que eu fiz.

Importante é poder escolher. E para isso, buscar informação. Só aí é que se pode de fato decidir - e não engolir decisão alheia. Isso feito, missão cumprida. Qualquer decisão tomada com consciência, com clareza dos motivos, deve ser respeitada. Seja pro lado que for.

- Tá, e onde posso onde buscar informações?

Primeiro a gente tem que se perguntar se quer mesmo se informar, ou se só quer legitimar uma decisão que já foi tomada - coisas completamente diferentes. Alguém com uma inclinação para o parto domiciliar vai gostar muito de ler uma turma mais "lado B": GAMA, Parto do Princípio, Mamíferas. Já quem chama essas moças de xiitas radicais vai descartar tudo o que for lido em um site desses, porque não lhes convém. Essas vão preferir fontes mais "oficiais", que estão por aí em sites de bebê, nas revistas, nos "manuais para grávidas", na boca da grande maioria dos médicos - opiniões que as radicais também vão descartar. Eu acho que as informações se complementam. Acho que o mais honesto é ler de tudo e aí filtrar, se identificar, fazer escolhas. Usar só um lado ou outro como referência mostra que a decisão já está tomada desde sempre, correto? Então pra quê perder tempo?

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A gente vê debates muito apaixonados acerca dessa questão do partos. Muita gente é taxada de radical, mas são essas mulheres, as "radicais", que conseguem botar o assunto na roda e orientar uma infinidade de mulheres para um parto que faz toda a diferença para elas. Por outro lado, elas também causam toneladas de frustração. Elas são meio supermulheres, bancam o caminho mais difícil, se orgulham muito dele, volta e meia enfim o dedo na ferida de quem não banca (e, veja bem: só dói em quem TEM essa ferida, correto? Mulheres absolutamente bem resolvidas com seus partos não se afetariam nem precisariam se defender o tempo todo). Elas também botam a expectativa lá no alto. Falam de um parto ideal que, se não se concretizar perfeitamente, pode causa mais frustração. Enfim: militam por uma causa nobre e ajudam muita gente, mas quem encara essa causa como o único jeito de ser feliz no parto - ou como uma imposição, um julgamento, um dedo acusador na própria fuça - acaba se frustrando (e criando escudos, caíndo em negação, chamando pro pau...). É por isso que são tão amadas e tão odiadas - às vezes pela mesma pessoa, tipo eu, haha!

Como blogueira, leitora e conversadora empolgada sobre o assunto, eu tenho uma impressão: existe quem se posicione em um extremo ou outro, mas a maioria das pessoas anda ali pelo meio, vagando entre o fogo cruzado sem conseguir se identificar completamente com um lado ou outro. Então acho importante enfatizar isso: o meio do caminho existe. Existe sim o "meio humanizado" (que pode não ser inteiro humanizado, vá lá, mas está mais perto disso do que o parto normal cheio de intervenções, certo?). Existe um bocado de possibilidades entre o parto natureba na beira do rio e a cesárea eletiva. As pessoas são diferentes, os medos são diferentes, os limites são diferentes, os caminhos são muitos. Que a gente possa se orgulhar do caminho que escolheu e receber os nossos filhos do melhor jeito possível.

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Mais divagações (porque eu amo esse assunto e posso falar por horas, notaram?), aqui.




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