tinha um paredão espelhado no meio do caminho.
Passo por ali sempre. E dou aquela espiadinha básica, di-a-ri-a-men-te. Porque não sei se toda mulher é assim ou se sou eu que sou uma louca ególatra, mas o fato é que não consigo passar por um espelho e não checar a bunda, ou o cabelo, ou o batom novo. E essa parede é especialmente boa, tipo um espelhão gigante mesmo, bem nítido, uma delícia. Pequena Alice também aprendeu a se olhar, e agora que ganhou uns óculos escuros passa por ali toda prosa, sorrindo adorável para o próprio reflexo.
Acontece que, tal qual um Narciso abestalhado pela própria imagem, eu nunca tinha olhado PARA ALÉM DE MIM MESMA naquela vitrine. Até ontem, quando notei no espelho um movimento que não era meu. Bom, aí aconteceu a revelação ÓBVIA: tem gente ali atrás, né Mariana burra? É um escritório e atrás daquele espelho todo tem um bocado de mesas, e atrás das mesas um bocado de gentes. Eu nunca tinha prestado atenção mas eles estão ali, sempre estiveram. Acompanhando meus olhares, reboladas e jogadas de cabelo de camarote (meus e de meia Paris, espero... melhor um constrangimento coletivo do que uma gafe solitária).
Que vergonha. AI QUE VERGONHA. Tento me consolar pensando que nunca chequei os dentes pra limpar salsinha ou coisa do tipo. Mas né? Humilhante anyway. Agora eu passo por ali e me controlo muito, mas MUITO, pra não dar uma olhadinha. Faço a checagem com-ple-ta no espelho do elevador pra não precisar me espiar no espelho da rua.
(Oi? Como assim, "câmeras no elevador"???)