Um peteleco em quem respondeu “o corpo”. Tô falando de mudanças mais profundas e relevantes, gente!
Pra mim foi o seguinte: eu mudei de lado. Traí o movimento. Virei a minha própria mãe.
Sabe aquele desencontro de gerações que faz a gente ter uma impaciência brutal com as nossas mães? Aquele “aaaaaai, mãããe!”, a preguiça, o sentimento de mico sempre que ela faz alguma coisa que a gente julgue inadequada (e a gente sempre julga)? Então. Ele passa no instante em que você ejeta o seu próprio rebento pro mundo. De repente, não mais que de repente, sua mãe tinha razão. Sempre teve. E você se dá conta que o seu filho, aquela coisinha ainda molinha e incapaz, daqui a pouco vai ter preguiça de você, e te criticar, e achar que você sempre o envergonha na frente dos amigos dele quando fica agarrando e dando beijos na porta da escola! Céus! Pois o universo é justo e vai fazer você pagar por toda a chatice que dedicou a sua mãe. E mais: vai fazer você repetir aquelas coisas enlouquecedoras que ela fazia e que - agora você sabe – eram pro seu bem, sempre.
Antes de ser mãe eu era bem liberal. Pois aí fiquei careta, conservadora, reacionária até. Eu agora olho pras tribos adolescentes com cabelos mal cortados e brincos em lugares estranhos e peço solenemente ao papai do céu pra minha filha, tão lindinha, não fazer uma coisa dessas com ela, muito menos comigo. Eu vou tomar um susto quando ela fizer uma tatuagem sem me consultar, o mesmíssimo susto que dei na minha mãe quando cheguei em casa com uma tribal no cóccix, numa vibe "I'm so hot" aos 17 anos (e eu era tudo menos “hot” aos 17, tadinha!). E aí vou falar pra ela que tatuagem é uma bobagem, e que olhaí, agora eu sou uma mulher adulta, mãe de filha desse tamanho, e tenho uma tatuagem sexy em cima da bunda, quão bobo é isso? E vai ser uma baita mentira, porque eu ainda vou amar minha tatuagem sexy mesmo quando for uma velhinha toda enrugada (não deixa a filha saber!), e vou amar forever mesmo aquela outra tatoo, sem graça de tudo, que fiz porque o tatuador amigo-da-amiga era gato. Eu vou amar cada marca, cicatriz ou furo que tenho no corpo, porque eles, por mais bobos que sejam, contam um pouco da minha história. Mas essas são as MINHAS marcas, eu sei conviver com elas. Com filho, não. Filho é outra coisa. Os filhos já são tão lindos que não devem nunca mudar alguma coisa. Não tem tatuagem, piercing, franja assimétrica nem cabelo cor de rosa. Filho meu, não!
Por trás de toda essa cena de mãe chata, o que existe no fundo é um desejo incontrolável e inatingível de proteger a cria. Das pessoas erradas, da pressão da turma, da falta de traquejo social, dos impulsos, dos hormônios, das espinhas, dela mesma numa idade em que a razão passa longe. Até você perceber que o esforço é inútil, e que ela também pode se defender de tudo isso sozinha, se tiver ferramentas pra isso. E as ferramentas quem dá é você.
Então é confiar no seu taco, baby. Confiar na educação que você deu, nos valores que transmitiu, no vínculo de vocês. Se tudo der certo seu filho, com certeza, vai ser uma pessoa legal.
Mesmo que te ache uma baita de uma chata.